Em 1950, o cineasta John Huston (1906-1988) planejou a
adaptação do livro The African Queen,
do escritor C.S Forester (1899-1966). Para isso, o diretor teve a brilhante e
oportuna ideia de chamar o romancista e crítico James Agee (1909-1955). Agee havia comentado sobre um trabalho de Huston, o documentário The Battle of San Pietro para a revista Time. Huston mandou-lhe um bilhete de
agradecimento, e, mais tarde, Agee dedicou ao diretor um penetrante artigo na revista
Life.
![]() |
C. S. Forester: O autor do romance que originou o filme UMA AVENTURA NA ÁFRICA (1951) |
![]() |
James Agee, um dos roteiristas de UMA AVENTURA NA ÁFRICA (1951). |
De
início, o livro de Forester fora adquirido pela Columbia Pictures, que
pretendia filma-lo com Charles Laughton e Elsa Lanchester. Depois a Warner
comprou o material de veículo para Bette Davis e Humphrey Bogart. Finalmente,
Huston e Sam Spiegel (1901-1985) pagaram 50.000 dólares, obtendo os direitos
para a Horizon. Assim, UMA AVENTURA NA ÁFRICA (The African Queen, 1951)
reverteu numa obra deliciosa cheia de espírito sardônico, mas, ao mesmo tempo,
de contagiante alegria, fé, e otimismo.
![]() |
Humphrey Bogart, um dos astros principais, e o diretor John Huston. |
A saúde precária de Agee o impediu de ir a África e Huston
solicitou Peter Viertel (1920-2007) ajuda para o roteiro final. Tempos depois, o cineasta declarou:
- C.S Forester disse-me
que nunca ficou satisfeito com o final de sua novela. Ele escreveu dois finais:
um sudado na edição americana; o outro, na inglesa. Nenhum dos dois lhe agradou
plenamente. Achei que o filme deveria ter um final feliz. Viertel e eu
escrevemos juntos o meu final, que acabamos filmando.
Viertel escreveu um livro sobre os bastidores de UMA AVENTURA
NA ÁFRICA, que inspirou Clint Eastwood a dirigir e estrelar em 1990 o filme
CORAÇÃO DE CAÇADOR (White Hunter Black Heart), interpretando o cineasta John
Huston, intitulado na fita como John Wilson.
![]() |
A história começa quando Rose (Katharine Hepburn) perde seu irmão, o missionário Samuel Sayer (Robert Morley), morto pelos alemães durante a I Guerra Mundial. |
![]() |
Com a morte do irmão, Rose une-se ao aventureiro Charlie Allnut (Humphrey Bogart). Mas os dois descobrem entre si muitas diferenças. |
Em
Setembro de 1914, no raiar da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), alemães
dizimam uma aldeia africana e matam o missionário inglês protestante Samuel Sayer
(Robert Morley, 1908-1992), cuja irmã, a solteirona Rose (Katharine Hepburn,
1907-2003), foge com o aventureiro canadense Charlie Allnut (Humphrey Bogart,
1899-1957) em seu barco, The African
Queen.
![]() |
Charlie e Rose precisarão superar suas diferenças, se quiserem sobreviver a perigosa África. |
O
casal de heróis, apesar de suas inúmeras diferenças de opinião sobre os
valores, enfrentam corajosamente o sol e a chuva, a fadiga, mosquitos,
cascatas, corredeiras, o perigo de jacarés, e claro, o ataque do famigerado
exército alemão. É nessa convivência tumultuada que os dois descobrem o significado
da amizade e do amor. De formação autoritária e puritana, Rose manifesta,
inicialmente, certa discriminação pelos modos rústicos e vulgares do canadense
Charlie. Indiferente aos seus problemas e sentimentos, procura impor seus
projetos e pontos de vista ao companheiro de viagem. Este, por sua vez, se
sente cada vez mais deprimido e solitário, o que faz com que ele recorra a
bebida com intuito de afogar suas frustrações.
![]() |
E a aventura só está apenas começando! |
Enquanto Rose, com um comportamento insensível e recatado,
controla de forma rígida suas manifestações de feminilidade, Charlie por sua
vez mostra pouco apreço por sua dignidade pessoal. A inglesa almeja uma conduta
angelicalmente superior; o canadense, por sua vez, deprecia seus valores
humanos. Entretanto, na convivência do dia a dia, Rose vai aprendendo a
respeitar o homem que se empenhara em auxiliá-la, dispondo-se a dividir com ele
todas as tarefas, mesmo as mais rudes. Por seu turno, a constante presença
feminina funciona como um estímulo para que Charlie recupere progressivamente a
autoestima e passe a ter um comportamento mais digno.
![]() |
Mas mesmo com as dificuldades, os dois superam suas diferenças. |
Estimulado
pela companheira Rose, ele enfrenta com coragem os riscos e encontra os meios
adequados para vencer todas as dificuldades. Os dois acabam sendo beneficiados
por esta convivência diária. O encontro acidental, resultantes de
circunstâncias adversas, vai transformando a viagem numa experiência e
compreensão cada vez mais profunda para ambos.
![]() |
Por fim, Charlie e Rose se apaixonam, e pelo amor, os dois conseguem sobrepujar todos os obstáculos. |
Ao
longo de toda a odisseia, os dois vão se sentindo estimulados a lutarem
juntos pela sobrevivência, confiantes no amparo recíproco e confortados pelos
laços de amizade plena e mútua. Por isso, UMA AVENTURA NA ÁFRICA faz um convite
à reflexão, através de uma exaltação aos valores humanos de solidariedade,
apreço, respeito, e amor recíproco.
![]() |
Durante as filmagens, John Huston explica como usar um rifle, observado por Humphrey Bogart e sua esposa Lauren Bacall. |
![]() |
Luz, Câmera, Ação! Bogart e Katie Hepburn prontos para mais um Take. |
UMA AVENTURA NA ÁFRICA foi rodado em árduas condições no rio
Ruky, no Congo Belga, e na Uganda Inglesa, descrevendo com cativante senso de
humor a acidentada jornada dos dois protagonistas por rios perigosos,
enfrentando malárias, corredeiras, insetos e sanguessugas até o objetivo final,
que é por a pique um navio alemão com dois torpedos improvisados. Essa apaixonante história de aventura e amor
conta com a belíssima fotografia de Jack Cardiff (1914-2009), que tão bem
consegue captar as belezas naturais do continente africano, tanto fauna quanto
flora. A música de Allan Gray
(1904-1973) é outro ponto alto do filme.
![]() |
Bogart e Huston |
![]() |
Bogart, Huston, Bacall, e o restante da equipe técnica: UMA AVENTURA NA ÁFRICA (1951). |
Vale ainda destacar que UMA AVENTURA NA ÁFRICA foi o primeiro
filme a cores de Katharine Hepburn. Este grande clássico do cinema de aventura,
já imortalizado em listas e antologias como “um dos melhores de todos os
tempos”, proporcionou ao mito Bogart o seu único Oscar como Melhor Ator. Até
seu falecimento em 1988, o cineasta John Huston costumava declarar que de todos
os filmes que realizou, UMA AVENTURA NA ÁFRICA era seu favorito, embora tenha realizado
obras de mesmo porte, como O Tesouro de Sierra Madre (1948), Relíquia Macabra
(1941), e O Segredo das Joias (1950).
FICHA TÉCNICA
Uma Aventura Na
África
(The African
Queen)
País
– Estados Unidos/Inglaterra
Ano
de Produção – 1951
Gênero
– Aventura
Direção
– John Huston
Produção
– Sam Spiegel, para a Horizon Pictures, e distribuição pela United Artists (mais tarde para Columbia Pictures)
Música
– Alan Gray
Fotografia
– Jack Cardiff, em Cores
Metragem
– 105 minutos.
ELENCO
Humphrey Bogart – Charlie Allnut
Katharine Hepburn – Rose Sayer
Robert Morley – Reverendo Samuel Sayer
Peter
Bull – Capitão do “Louise”
Theodore
Bikel – Primeiro Ofical
Walter
Gottel – Segundo Oficial
Peter
Swanwick – Primeiro oficial do “Shona”
Richard
Marner – Segundo oficial do “Shona”
Produção e Pesquisa
Paulo Telles
As Maiores Trilhas Sonoras da Sétima Arte, e em todos os tempos! Só no
EM MARÇO, 3ª TEMPORADA! AGUARDEM!!!