Que o cinema desde os primórdios explorou ao máximo a Bíblia
Sagrada e os Textos Sacros não é nenhuma novidade. Os primeiros cineastas sempre
encontraram nas histórias do Antigo e Novo Testamento farta matéria prima de
alto teor de empatia para realização de grandes espetáculos épicos com milhares
de figurantes, locações imponentes, cenários e vestuários suntuosos, que foram
elementos atrativos para as bilheterias. O diretor e produtor Cecil B.DeMille
(1881-1959), cuja história se confunde até mesmo com a própria origem do cinema
americano, é considerado o Pai das
superproduções ao estilo. DeMille gostava de filmar dramas religiosos porque
via na Bíblia abundante conteúdo que poderia originar bons roteiros. Um dia, o
cineasta declarou:
- Por que eu gosto de
filmar dramas bíblicos? Ora a Bíblia sempre foi um Best Seller. Por que iria eu
desperdiçar dois mil anos de publicidade gratuita?
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Richard Gere como o REI DAVID (1985), do diretor Bruce Beresford. |
Dito e feito. No gênero, o lendário diretor realizou O Rei dos Reis (1927), O Sinal da Cruz (1932), Cleópatra (1934), Sansão e Dalila (1949) e Os
Dez Mandamentos (1923 e 1956).
Outros cineastas também exploraram a temática religiosa e bíblica, como Mervyn
LeRoy (Quo Vadis, 1951), William
Wyler (Ben-Hur, 1959), Nicholas Ray (Rei dos Reis, 1961), e George Stevens (A Maior História de Todos os Tempos,
1965), mas estes diretores ainda compuseram suas obras de forma espetacular a
maneira de DeMille, algo rompido por Pier Paolo Pasolini ao realizar em 1964
na Itália O Evangelho Segundo São Mateus,
que sem os faustos e pompas bem caracterizados dos épicos de Hollywood, apresentava a
figura de Cristo mais terrena do que celeste, emoldurado por realismo de cenas
e conteúdos sociais.
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O cineasta australiano Bruce Beresford. |
É exatamente neste contexto que o diretor australiano Bruce
Beresford lançou em 1985 a superprodução REI DAVID (King David, 1985). Beresford ficou mundialmente conhecido pelo seu
primeiro filme como cineasta, A Força do
Carinho/Tender Mercies, recebendo uma indicação ao Oscar como Melhor
Diretor em 1983. Beresford ainda trouxe da Austrália uma bagagem expressiva de
filmes de publicidade e trabalhos pela televisão.
Quando resolveu filmar a vida do Rei David, Bruce Beresford não quis simplesmente se basear na
história narrada no Antigo Testamento, mas se amparar por pesquisadores e uma
excelente equipe técnica para a condução das locações, cenários, e roteiro. Era
desejo do diretor de filmar REI DAVID na Terra Santa, local real dos eventos,
mas a hipótese foi descartada. Foi na Itália que o cineasta encontrou condições
necessárias para os planos que tinha em mente, e a Sardenha foi escolhida para
locação (o mesmo lugar que Pasolini dirigiu O
Evangelho Segundo São Mateus, na cidade de Matera), onde foram filmadas as
cenas de Jerusalém, da cidade de Gath, e as terras de Jessé, o pai de David. Lá,
os cenários e equipamentos precisaram ser baixados através de uma garganta,
que, a primeira vista, parecia inacessível.
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Alice Krige como Bethsabá, um dos amores do REI DAVID (1985). |
O
maior problema que a produção de REI DAVID enfrentou foi o excesso de chuvas,
que além de atrapalhar as filmagens, acabaram por dar a paisagem uma tonalidade
demasiadamente esverdeada para o clima semiárido (como é a Palestina) que se
desejava transmitir. Em Cesamo, para obter a tonalidade amarronzada que a
fotografia requeria, espalhou-se areia sobre relva e arbustos.A grande batalha de Gilboa foi reproduzida nos Montes
Abruzzi, que ofereciam uma atmosfera bastante próxima do original, com seus
picos nevados e vales pedregosos, onde contou com a participação de milhares de
extras, cavalos especialmente treinados para puxar bigas, e mais de 50 stuntmen.
Ken Adam (1921-2016), desenhista de produção diversas vezes
premiado e de grande criatividade (Oscar por Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, 1976) comandou técnicos
experientes e também premiados, como John Mollo (1931-2017), responsável pelos
vestuários. Molo começou a desenhar os figurinos sete meses antes do início das
filmagens, inspirando-se nas pinturas de Tissot, que visitou a Palestina lá
pelos idos de 1880. Mollo, considerado um especialista de uniformes militares,
também foi detentor de vários Oscars na categoria de vestuário, como Gandhi (1983) e Guerra nas Estrelas (1977).
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O casamento de David (Richard Gere) com Michal (Cherie Lunghi), filha do Rei Saul (Edward Woodward). |
O
roteiro ficou a cargo de Andrew Birkin e James Costigan (1926-2007), que além
das pesquisas com renomados peritos e historiadores, utilizaram-se dos sagrados
textos de Samuel I e II, Crônicas I, e os Salmos de David para composição da
trama. A fotografia, por sinal de primoroso requinte, é do australiano Donald
McAlpine. E a trilha sonora do maestro norte-americano Carl Davies.
REI DAVId CONFORME A BÍBLIA E OUTROS TEXTOS HISTÓRICOS.
Conforme o texto sagrado, Davi era filho de Jessé, um pastor.
Os livros de Samuel (I Samuel e II Samuel) tratam de sua vida pessoal e
monárquica. David é descrito como sendo um homem de valor, chamando à atenção do
Rei Saul por sua habilidade como músico, o que lhe rendeu um lugar no circulo
real, e posteriormente, com as batalhas contra os filisteus ficou reconhecido
como um grande guerreiro. Saul deu sua filha Michal como esposa, e Jonathan,
filho do rei, tornou-se amigo íntimo de David.
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David e seu pequeno filho Absalão. |
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A dança de David diante de Deus. |
Os sucessos militares de David provocaram a inveja e o cume
de Saul, que o obrigou a fugir da corte. Com a morte de Saul, David foi eleito
Rei de Judá, e sete anos e meio depois proclamado Rei de Israel. Fez de
Jerusalém a capital religiosa e política dos hebreus e para lá transportou a
arca sagrada com os Dez Mandamentos. David teve muitas esposas, concubinas, e filhos, e entre
estes, queria deixar o trono para Absalão, que contra ele, se revolta. Com a
morte de David, seu filho mais novo Salomão assume o trono de Israel.
RICHARD GERE E O ELENCO
REI
DAVID teve, além de milhares de figurantes, cerca de 40 papéis importantes
interpretados por grandes nomes, a começar por Richard Gere, que mal havia
terminado seu trabalho em Cotton Club
(1984, de Francis Ford Coppola) recebeu convite do diretor Beresford para viver
o rei bíblico. Gere aceitou o desafio de interpretar o grande Rei dos Hebreus
dos 26 até os 70 anos de idade, quando morre. Para o ator, o personagem foi
extremamente cativante por seu caráter ambíguo – poeta, guerreiro, pastor, e
Rei. Ian Sears vive David na adolescência.
Grandes
intérpretes ainda compõem o espetáculo, como o inglês Edward Woodward
(1930-2009) como o Rei Saul; Alice Krige como Bethsabá, a última esposa de David;
Denis Quilley (1927-2003) como o Profeta Samuel, que consagrou David como
futuro Rei de Israel; Cherie Lunghi como Michal, filha de Saul e primeira
esposa de David; Hurd Hatfield (1917-1998) como o Profeta Abimelech; John
Castle como Abner; Jean-Marc Barr como Absalão, filho rebelde de David; Jack
Klaff como Jonathan, filho de Saul e melhor amigo de David; e Niall Buggy como
o Profeta Nathan.
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O veterano Hurd Hatfield como o Profeta Abimelech. |
Apesar
da produção requintada, o filme não alcançou o sucesso esperado, tornando um
grande fracasso nas bilheterias (no Rio de Janeiro, REI DAVID chegou ao Natal
de 1985). O diretor Bruce Beresford conseguiu se reabilitar com Crimes do Coração/ Crimes of the Heart, em 1986, e em 1989, um de seus filmes mais
famosos, Conduzindo Miss Daisy/Driving
Miss Daisy, com Jessica Tandy e Morgan Freeman, foi premiado com o Oscar de
Melhor Filme do Ano. Na época do lançamento, especulou-se que REI DAVID de
Beresford pudesse representar uma nova onda de filmes épicos, contudo, mesmo
com ineficientes resultados, a Paramount empreendeu esse difícil projeto de
fazer uma versão integral da vida do Monarca de Israel, explorando seu lado
ambíguo, sedutor e político do jovem pastor que se tornou Rei de seu povo.
FICHA
TÉCNICA
REI DAVID
(king david)
PAÍS
- Estados Unidos
ANO
– 1985
GÊNERO
– Épico Religioso/Bíblico
DIREÇÃO
– Bruce Beresford
PRODUÇÃO
– Martin
Elfand e Charles Orme (Produtor associado) para a Paramount Pictures.
ROTEIRO
– Andrew Birkin e James Costigan (com base nos livros de Samuel I e II,
Cronicas I e Salmos de David)
FOTOGRAFIA
- Donald McAlpine (Em Cores)
MÚSICA
- Carl Davis
TEMPO
DE PROJEÇÃO – 115 Minutos
ELENCO
RICHARD
GERE – Rei David
EDWARD WOODWARD –
Rei Saul
ALICE KRIGE –
Bethsabá
DENIS QUILLEY –
Profeta Samuel
CHERIE LUNGHI –
Michal
HURD HATFIELD –
Profeta Abimelech
JACK KLAFF –
Jonathan
TIM WOODWARD – Joab
IAN SEARS – David
como menino
SIMON DUTTON –
Eliab
ARTHUR WHYBROW –
Jessé, pai de David
CHRISTOPHER MALCOLN
– Doeg
MICHAEL MULLER – Abinadab
JAMES COOMBES –
Amnon
GINA BELLMAN –
Tamar
GEORGE EASTMAN –
Golias
GENEVIEVE ALLENBURY
– Ahinoan
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– Palastu
PRODUÇÃO E PESQUISA
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