Neste corrente ano de 2019, o
ator Lex Barker (1919-1973) estaria completando seu centésimo aniversário.
Alto, bonito, culto, e fluente em quatro idiomas, Barker foi também o
protagonista de um dos escândalos mais famosos de Hollywood, envolvendo a atriz
Lana Turner (1921-1995), sua então esposa, e a filha dela. Até hoje, não se
sabe o que verdadeiramente aconteceu, pois os relatos biográficos são muito
controversos. Mas certamente, é mais lembrado como um dos mais famosos e
queridos intérpretes de TARZAN no cinema, e por muitas fãs, como o mais belo. Vamos relembrar um pouco da vida e da
carreira de Lex Barker em Hollywood e também no cinema europeu.
Por Paulo Telles.
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Lex Barker aos 8 anos de idade. |
Lex Barker nasceu Alexander Crichlow Barker Jr em 8 de maio
de 1919, em Rye, Nova York. Vindo de uma família abastada e proeminente, Barker
era descendente direto do fundador de Rhode Island - o Cônsul Roger Williams.
Lex foi excepcional nos
esportes tais como o Futebol e Atletismo quando ainda cursava o ensino
secundário e, posteriormente, a Universidade de Phillips-Exeter, em Fessenden.
Foi a Princeton com a intenção de tornar-se ator, a contragosto de seus pais
que o queriam nos negócios da família. Descoberto por um agente de talentos,
este o convidou para ir a Hollywood fazer um teste na 20th Century Fox. A
família não aprovou e acabou deserdando-o quando deixou bem claro suas
pretensões na vida.
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O jovem Lex Barker. |
Para bancar seus sustentos sem o apoio familiar, Barker
trabalhava numa fábrica de aço de dia e a noite estudava engenharia. Realizado
os testes na Fox, Lex atuou em pontas sem créditos. Em fevereiro de 1941, quase
um ano antes do ataque japonês a Pearl Harbor, Barker adiou seus projetos como
ator e se alistou no Exército dos Estados Unidos. Lutou na Sicília, onde foi
ferido na cabeça e na perna. Tempos depois, foi promovido a Major de
Infantaria.
Voltando
para os Estados Unidos, Barker recuperou-se em um hospital militar no Arkansas.
Ao entrar para reserva, ele viajou para Los Angeles. Conseguiu ponta no filme
Sonhos de Uma Estrela (Doll Face, 1945) musical de Lewis Seiler, com Vivian
Blaine e Carmen Miranda. Não recebendo muitas propostas no estúdio da raposa,
tentou melhor sorte na RKO
INTRODUÇÃO
AO CINEMA
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Barker malhando para encarar as câmeras, em seu papel mais famoso. |
No novo estúdio, Barker teve mais oportunidades, mesmo
ganhando papéis pequenos. Foi o que ocorreu em Ambiciosa (The Farmer's
Daughter, 1947) de C. H. Porter, com Loretta Young e Joseph Cotten, e Rancor (Crossfire, 1947) de Edward Dmytryk, com Robert Mitchum e Robert
Ryan. Em 1948, foi notado no faroeste A
Volta dos Homens Maus (Return of the
Bad Men, 1948) de Ray Enright, com Randolph Scott.
TARZAN
Com a saída de Johnny Weissmuller (1904-1984) no papel de
Tarzan, o produtor Sol Lesser (1890-1980) acionou o diretor Lee Sholem
(1913-2000) para promover um teste na busca pelo próximo Homem Macaco. Para
isso, Sholem convocou uma reunião com agentes cinematográficos e introduziu
dentro dos estúdios da RKO uma sala para a realização de testes com possíveis
candidatos. Ele chegou a entrevistar cerca de cem atores e atletas para o
papel, mas nenhum atendeu as expectativas.
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Barker entra em ação como o Rei das Selvas. |
Os testes já estavam no fim quando Lex Barker, então com 28 anos e aspirante a ator na RKO, foi reparado
pelo diretor em um dos corredores da companhia. Sholem o convidou para ir a seu
escritório e logo foi perguntando:
- Onde você esteve todo este tempo, rapaz? Você é bem alto.
Barker prontamente respondeu:
- Tenho 1m93.
Sholem não perdeu tempo e foi logo objetivo:
- Você gostaria de ser Tarzan? Um corpo atlético é que não
lhe falta.
- Gostaria sim – respondeu Barker.
-Ótimo! – Exclamou felicíssimo Sholem – O papel é seu.
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Brenda Joyce (em seu último papel como Jane), a macaca Chita, e Barker, em foto publicitária para TARZAN E A FONTE MÁGICA (1949) - O primeiro filme de Lex Barker como Tarzan. |
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Barker e o escritor Edgar Rice Burroughs, o criador de Tarzan. |
O diretor tratou de ligar rapidamente para Lesser,
comunicando que a busca pelo novo Tarzan havia chegado ao fim na descoberta por
Lex Barker. Quando o produtor viu o jovem ator, concordou prontamente com a
escolha de Sholem, e Barker foi contratado após os devidos testes. Como Tarzan, seu primeiro trabalho foi em Tarzan e a Montanha Secreta (Tarzan's Magic Fountain, 1949), com Lee
Sholem na direção e roteiro de Curt Siodmak (1902-2000) e Harry Chandlee
(1882-1956). Como nas produções anteriores, os roteiristas procuraram usar
algumas peculiaridades dos livros de Edgar Rice Burroughs (1875-1950). Avaliado
por alguns críticos como jovem demais para viver o Homem Macaco, Barker chegou
a declarar: Se meus músculos aguentarem,
e minha cintura estiver baixa, eu posso interpretar Tarzan até aos 50 anos.
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Poster de TARZAN E A MONTANHA SECRETA (1949) |
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Cartaz de TARZAN NA TERRA SELVAGEM (1952), levado na TV brasileira como TARZAN EM PERIGO. |
Lançado em janeiro de 1949, Tarzan e a Montanha Secreta foi bem recepcionado. O The Hollywood Reporter escreveu: A história poderia reivindicar uma
substância dramática mais completa, mas suas deficiências são amplamente
compensadas em fundos de produção e em imagens de animais em cenas
surpreendentes. E Lex Barker recebeu
críticas positivas: Quanto ao Tarzan de
Barker, é igual a qualquer um dentro da memória deste crítico, e temos medo de
que o personagem volte para Elmo Lincoln. O belo físico de Barker se encaixa na
descrição de Burroughs, e ele é ator suficiente para tornar o Homem da Selva
mais animado do que ele já foi.
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Poster de TARZAN E A MULHER DIABO (1953) |
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Com Denise Darcel, em TARZAN E AS ESCRAVAS (1950) |
Entre 1950 a 1953, Barker ainda atuou em mais 4 (quatro)
produções como Tarzan: Tarzan e a
Escrava/ Tarzan and the Slave Girl (1950, direção de Lee Sholem); Tarzan na Terra Selvagem / Tarzan's Peril
(1951, direção de Byron Haskin): Tarzan e
a Fúria Selvagem/ Tarzan's Savage Fury (1952, direção de Cy Endfield); Tarzan e a Mulher Diabo/ Tarzan and the
She-Devil (1953, direção de Kurt Neumann).
DEPOIS
DE TARZAN, NOVOS PAPÉIS
Após cinco filmes estrelando como o personagem de Edgar Rice
Burroughs, Barker desfez contrato com Sol Lesser e partiu para outros trabalhos
em diversas companhias cinematográficas, realizando uma variedade de papéis
heroicos, principalmente em faroestes, como Torrentes
de Vingança (Thunder Over the Plains,
1953) de Andre De Toth, onde o astro briga com Randolph Scott pelo amor de
Phyllis Kirk. A seguir vieram também O
Morro da Traição (The Yellow Mountain,
1954) de Jesse Hibbs, A Caravana da Morte
(The Man from Bitter Ridge, 1954) de
Jack Arnold, e A Mestiça do Mississipi
(Duel on the Mississippi, 1955) de
William Castle - todos do gênero Western.
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Barker com Jeff Chandler, durante um intervalo de BARCOS AO MAR (1956) |
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Encarando Randolph Scott, e Phyllis Kirk: TORRENTES DA VINGANÇA (1953) |
Em 1956, elencou no clássico bélico Barcos ao Mar (Away All Boats, 1956) de Joseph Pevney, contracenando com Jeff
Chandler, Julie Adams, George Nader, Richard Boone, e Jock Mahoney, que mais
tarde também seria um famoso intérprete de Tarzan.
A
VIDA PESSOAL E UM ESCÂNDALO.
Lex Barker foi casado cinco vezes, sendo duas com as atrizes
Arlene Dahl (que mais tarde se casaria com o ator Fernando Lamas) e Lana Turner
(1921-1995). Ficou também casado por sete anos com a atriz espanhola Carmen
Cervera, que fora Miss Espanha e de quem se divorciou em 1973. Lex teve dois
filhos do primeiro casamento com Constanze Thurlow, e outro de sua união com
Irene Labhart, que morreu em 1962. Irene descobriu que tinha Leucemia, e veio a falecer. Com todos os cuidados, Barker demonstrou ser um marido dedicado e esteve com ela até o seu fim.
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Com Lana Turner, uma de suas cinco esposas. |
A relação com sua terceira esposa, Lana Turner, foi polêmica
e até hoje é controversa. De acordo com alegações detalhadas em um livro
escrito pela filha da atriz, Cheryl Crane, publicado quinze anos depois da
morte de Barker, Lana ordenou que o ator saísse de sua casa com uma arma
apontada para ele. Cheryl, que tinha apenas 13 anos na época, acusou Lex de molesta-la
sexualmente durante três anos. O divórcio entre Lana e Barker seguiu
rapidamente, e muito embora a acusação de assédio não tenha sido arquivada, o
registro de divórcio (ocorrido em 1957) não alude à alegação.
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Com a atriz espanhola Carmen Cervera, outra de suas esposas. |
Muitas biografias são controversas quando se
trata de Lana Turner. Linda e talentosa, Lana também era uma mulher que
encontrava nos romances proibidos uma excitante emoção. Ela mesma admitia que
não conseguisse viver para um só homem. Todavia, também foi criticada por suas
escolhas, que incluíam até mesmo Lex Barker.

CARREIRA
NA EUROPA E BRASIL
A partir de 1957, a carreira de Barker em Hollywood ficou
abalada. Sendo fluente em quatro idiomas (francês, espanhol, italiano e
alemão), e com dezesseis trabalhos em seu currículo, o ator mudou-se para a
Europa, onde por lá encontrou enorme popularidade, estrelando mais de 40 filmes
europeus.
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Como o ciumento marido de Anita Ekberg em A DOCE VIDA (1962). obra de Federico Fellini. |
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Com a recém falecida Chelo Alonso, em A ESPADA DO SARRACENO (1959). |
Na Itália, ele teve um papel curto, mas
convincente como o noivo ciumento de Anita Ekberg na obra prima de Federico
Fellini (1920-1993) A Doce Vida (La Dolce Vita, 1960). Curiosamente, Barker
interpreta um personagem que parece fazer alusão a ele, pois no momento em que
os paparazzi estão a postos para
presenciar algum rompante entre ele e a noiva, um deles dispara um comentário
dirigido ao personagem de Lex:
- ... E pensar que já foi Tarzan!
Nos estúdios de Cinecittà, Lex protagonizou aventuras Capa
& Espada, como A Espada do Sarraceno
(La Scimitarra del Sarraceno, 1959)
de Piero Pierotti, Os Piratas da Costa
(I Pirati della Costa, 1960) de
Domenico Paolella, e Robin Hood e os
Piratas (Robin Hood e i Pirati,
1960) de Giorgio Simonelli.
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ROBIN HOOD E OS PIRATAS (1960) |
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O INVISÍVEL DR. MABUSE (1962). |
Entretanto, foi na Alemanha que ele obteve maior sucesso,
estrelando dois filmes com base nas histórias do Dr. Mabuse (anteriormente
filmadas por Fritz Lang): Nas Garras do
Dr. Mabuse (Im Stahlnetz des Dr.
Mabuse, 1961) e O Invisível Dr.
Mabuse (Die unsichtbaren Krallen des
Dr. Mabuse, 1962), ambos de Harald Reinl (1908-1986).
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Como Old Shatterhand, ao lado do índio Winnetou (Pierre Brice): A LEI DOS APACHES (1963), uma das sete aventuras em série em que participou, rodadas na Alemanha. |
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Barker, implacável como Old Shatterhand, com base nos romances de Karl May. |
Ainda na Alemanha, estrelou uma série treze filmes ao lado do
francês Pierre Brice (1929-2015) com base nos romances do escritor alemão Karl
May (1842-1912), com as aventuras do índio Winnetou e seu amigo Old
Shatterhand, que fez muito sucesso ao longo da década de 1960. Filmou no Brasil
Folia de Assassinos (Gern hab' ich die Frauen gekillt, 1966),
de Alberto Cardone e Robert Lynn, uma trama de espionagem com vários episódios
onde Barker é um agente americano que investiga um crime no Rio de Janeiro em
pleno carnaval carioca.
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Registro de Lex Barker no Rio de janeiro, onde filmou FOLIA DE ASSASSINOS (1966), passeando pelo Aterro do Flamengo de carro e encontrando com Klaus Kinski no Pão de Açúcar. |
Em 1966, Lex recebeu o Prêmio Bambi como “Melhor
Ator Estrangeiro” na Alemanha. Ele voltava aos Estados Unidos de vez em quando
e fazia participações especiais pela TV, como nas séries O Rei dos Ladrões (It Takes a
Thief, 1968-1970) com Robert Wagner, e F.B.I (1965-1974) com Efrem
Zimbalist Jr. Mas a Europa, especialmente a Alemanha, foi seu lar profissional e artístico pelo resto da vida. Entretanto, voltou a fixar moradia nos Estados Unidos em 1972.
INFARTO: THE END.
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Com a noiva Karen Kondazian, poucos dias antes de sua morte. |
Em 11 de maio de 1973, três dias depois de seu 54º
aniversário, Lex Barker morreu de um ataque cardíaco fulminante enquanto
caminhava por uma rua de Nova York. O ator estava indo se encontrar com a jovem
atriz Karen Kondazian, de quem estava noivo e tinha planos para casar. Seu
funeral foi restrito para família e amigos mais chegados. Lex Barker foi o décimo ator oficial a caracterizar Tarzan nas telas,
e sua bela aparência e físico ajudaram a torna-lo como um dos mais populares
intérpretes do herói na Sétima Arte.

Filmografia
Parcial
Ambiciosa
(1947)
Dick
Tracy versus Gruezone (1947)
Lar,
Meu Tormento (1947)
Rancor
(1947)
Tarzan
e a fonte mágica (1949)
Tarzan
e as escravas (1951)
Tarzan
em perigo (1952)
Tarzan
e a fúria selvagem (1952)
Tarzan
e a mulher diabo (1953)
O
morro da traição (1953)
A
Mestiça do Mississipi (1953)
Tambores
chamam para a guerra (1957)
A
garota das meias pretas (1958)
La
dolce vita (1960)
Piratas
das Costas (1960)
O
Terror do Máscara Vermelha (1961)
Robin
Hood e o pirata (1961)
O
invisível Dr. Mabuse (1962)
A
Lei dos Apaches (1963)
Old
Shatterhand (1963)
Winnetou
(1964)
O
Tesouro dos Renegados (1964)
Winnetou
e a Mestiça (1965)
Aoom
(1970)
Paulo
Telles
Produção
e Pesquisa.
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ESPECIAL HOMENAGEM À DORIS DAY NO
CINE
VINTAGE.
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VINTAGE –DOMINGO -
19 DE MAIO 2019-
DOMINGO
- ÀS 22 HORAS.
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Maiores Trilhas Sonoras da Sétima Arte, e em todos os tempos! Só no
REPRISE DO ESPECIAL NAS QUINTAS FEIRAS (dia 23 de maio - 22 HORAS)
E SÁBADO (dia 25 de maio - 17 HORAS)
Foi um Tarzan muito bom. Só o fato de ter vivido um tempo com Lana Turner, já valeu a vida.
ResponderExcluirMuito boa sua matéria, Telles. Creio que Lex Barker foi um dos grandes atores de aventuras de todos os tempos, e se considerarmos a quantidade de filmes que fez (como Tarzan, capa e espada, faroestes - em que foi até índio - Old Shatterhand, etc) foi mais atuante, nesse aspecto, que Errol Flynn e Burt Lancaster, grandes atores de aventuras. Lex Barker pode ter sido um ator limitado, mas tinha enorme carisma e grande presença em cena. E, arigor, morreu muito cedo. Jamais será esquecido !!! Mais uma vez, Telles, parabéns pela detalhada matéria !!!
ResponderExcluirTenho um site na internet e convido-o a acessá-lo. Lá falo de gibis e de filmes, e abordo muita coisa de Lex Barker. O endereço é: http://70-anos-de-gibis.webnode.com
Abraços.
Olá José, Muito obrigado pelas considerações. Lex de fato sabia exercer grande fascínio nas telas, principalmente com as mulheres, mas impôs respeito como herói também para com o público masculino, e claro, como Tarzan, sendo um dos intérpretes mais lembrados e queridos por fãs.
ExcluirVou acessar seu site sim, fiquei imensamente curioso, pois também sou um amante dos quadrinhos antigos, e foram os gibis que, de certa forma, me influenciaram a gostar de cinema. E com certeza, Lex Barker tem muito material.
Obrigado José por participar, e um forte abraço do editor, feliz 2020!
Acho que aparência muito bonito, muito loiro e muito elegante, limitava os papéis em Hollywood. Já na Alemanha integrava bem o comum.
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