AUDAZES
E MALDITOS (Sergeant Rutledge, 1960) não está entre os filmes mais populares do
Mestre John Ford (1895-1973) se for comparar com outras obras do cineasta. Mas
é um filme na tradição admiravelmente humana deste grande diretor de tantos
sucessos marcados, ainda mais por se tratar de uma mensagem antirracista em tom
eloquente e comovedor, com engrandecimento do ser humano. Uma obra que faz do
preconceito racial o seu tema, sendo esta uma das mais exaltadas e efetivas
demonstrações do que há de irracional e desprezível no homem.
Os
apreciadores do western talvez possam desenhar esta obra fordiana, achando que
ela contém elementos alheios as características do gênero. Afinal, trata-se não
apenas sobre um trabalho em prol dos negros (na época de sua realização, já
havia se iniciado o movimento dos direitos civis nos Estados Unidos), mas
também de um trabalho de linha jurídica, uma vez que a história é toda centrada
no julgamento de um sargento negro, acusado injustamente de ter matado seu
superior e violentado e assassinado a filha deste.
Assim, o que daria condição de fita do gênero, seria a
situação do episódio no tempo e no espaço típico ao mesmo. Entretanto, através
do depoimento de testemunhas, quando a ação vem a fugir do confinamento do
tribunal para desenvolver-se no campo aberto, o hábil diretor Ford soube dar a
história um toque inconfundível de western, onde não poderiam faltar os
ingredientes que tanto nos aprofundamos, como a revolta dos índios e a ação da
cavalaria. Mas AUDAZES E MALDITOS não nos relata episódios desta batalha, senão
a luta heroica de um cidadão empenhado em afirmar-se como um soldado e um homem
para fugir do estigma de “negro do charco” não seria o objetivo principal do
tema.
Tudo começa em 1866, um ano depois do término da Guerra Civil
Americana (1861-1865), e depois da abolição da escravatura nos Estados Unidos.
Negros que haviam sido escravos passam a integrar regimentos de cavalarias
comandados por oficiais brancos. Mas nem por isso eles conseguem o respeito que
merecem pela sociedade, já que preconceitos raciais levam um destes soldados, o
1º Sargento Braxton Rutledge (Woody Strode, 1914-1994) a ser acusado de um
crime sórdido: estrangulamento de uma jovem, precedido de espancamento e
estupro, seguido de assassinato do pai da vítima.
Acusado injustamente e sem esperança de justiça, Rutledge
foge e ocasionalmente trava encontro com Mary Beecher (Constance Towers), uma
jovem que para em um posto de ferrovia e encontra o telegrafista morto em sua
cabine, vítima dos apaches. Rutledge é ferido ao lutar com os índios e Mary resolve
tratar de seu ferimento. Entretanto, é nesse meio tempo que o superior de
Rutledge, o 1º Tenente Thomas Cantrell (Jeffrey Hunter, 1926-1969), oficial
branco que comanda um regimento de soldados negros, vai encalço do sargento,
onde o encontra junto a Mary Beecher, que a conhecera durante uma viagem de trem,
iniciando um promissor romance. Mary, que havia ficado no Leste durante algum
tempo, volta para o Oeste para rever o pai, mas fica ciente da situação
violenta com os apaches, que resolveram declarar guerra aos brancos.
Após muitas discussões com Rutledge e Mary, o Tenente
Cantrell acaba se convencendo da inocência do sargento e se voluntaria a
defendê-lo em seu julgamento. Mas até lá, muitos incidentes vão ocorrer com o
trio e o regimento. Ataques seguidos dos apaches atrasam a jornada, e neste
ínterim, Rutledge ainda não está convencido da ajuda de Cantrell e consegue
escapar durante um confronto forçado com os índios, mas retorna quando reflete
que seria muito pior fugir, pois estaria assumindo a culpa, além do amor
próprio e pelo seu regimento de cavalaria. É o sargento que descobre o
paradeiro do pai de Mary, encontrado sem vida, morto pelos apaches.
No julgamento presidido por um neurastênico juiz, Coronel
Otis Forgate (Willis Bouchey, 1907-1977) que vive chamando atenção da
inconveniente esposa, Cordelia (Billie Burke, 1884-1970), Rutledge é defendido
implacavelmente por Cantrell, e ambos terão que enfrentar a perspicácia de um
promotor que odeia negros, Capitão Shattuck (Carlenton Young, 1905-1994) que
utiliza meios brutais para acusar o sargento. Em sucessivos Flash-Backs, são reconstituídos os fatos
em debate.
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O diretor John Ford |
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O diretor John Ford, de braços cruzados, dirigindo uma cena de beijo entre Jeffrey Hunter e Constance Powers. |
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Ford orientando Billie Burke. |
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Woody Strode como o Sargento Braxton Rutledge, acusado de um crime que não cometeu... |
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... é levado a côrte marcial pelo seu regimento de cavalaria. |
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No julgamento, o Sargento Rutledge é defendido por seu superior... |
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... o Tenente Thomas Cantrell, vivido por Jeffrey Hunter. |
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Na audiência, a hostilidade dos espectadores, que querem a pena de morte para Rutledge. |
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A jovem Mary Beecher (Constance Towers) acaba se solidarizando com Rutledge. |
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Rutledge tenta resistir a prisão... |
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... mas acaba convencendo o Tenente Cantrell de sua inocência. |
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Enquanto não chegam a cidade para o julgamento, Cantrell e seu regimento enfrentam o ataque dos índios apaches. |
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Woody Strode. Jeffrey Hunter, e Constance Towers: AUDAZES E MALDITOS(1960), de John Ford. |
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Numa tentativa de fuga de Rutledge, Cantrell tenta abatê-lo, mas é impedido por Mary Beecher. |
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O julgamento é presidido pelo neurastênico Coronel Otis Forgate, vivido por Willis Bouchey. |
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A veterana Billie Burke como a esposa de Otis, Cordelia, parte humorística deste western de Ford. |
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Carleton Young é o advogado racista e cruel promotor do caso. |
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Mary Beecher é uma das testemunhas de defesa, que testifica a coragem e a bravura do Sargento Rutledge. |
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Mary chega a pedir a Cantrell para não levar Rutledge a julgamento, mas como oficial, ele esta na obrigação e cumprimento do dever. |
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Woody Strode tem a melhor atuação do filme. |
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A gigantesca e estoica figura de Strode em AUDAZES E MALDITOS tem dignidade em seu desempenho. |
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Jeffrey Hunter e sua esposa Dusty num intervalo das filmagens. |
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Jeffrey Hunter em AUDAZES E MALDITOS (1960) de John Ford. |
AUDAZES E MALDITOS, apesar de ignorado por alguns críticos, é
uma obra admirável, que merece destaque entre tantas obras que compõem a
criação máxima do Mestre John Ford, recomendável sem reservas para todos os
públicos.
FICHA
TÉCNICA
AUDAZES E
MALDITOS
(SERGEANT RUTLEDGE)
País
– Estados Unidos
Ano – 1960
Gênero – Western
Direção – John Ford
Produção – Patrick Ford e Willis
Goldbeck para a Warner Bros.
Roteiro – James Warner Bellah e Willis
Goldbeck, com base em livro de James Warner Bellah
Música
– Howard Jackson
Fotografia
– Bert Glennon, em Cores
Metragem
– 111 minutos.
elEnco
JEFFREY
HUNTER – 1º Tenente Thomas Cantrell
CONSTANCE
TOWERS – Mary Beecher
WOODY STRODE – 1º Sargento Braxton
Rutledge
BILLIE
BURKE – Senhora Cordelia Fosgate
JUANO
HERNANDEZ – Sargento Matthew Luke Skikdmore
WILLIS
BOUCHEY – Coronel Otis Fosgate, o juiz
CARLETON
YOUNG – Capitão Shattuck, promotor do caso
JUDSON
PRATT – Tenente Mulqueen
CHUCK
HAYWARD – Capitão Dickinson
WILLIAM
HENRY – Capitão Dawyer
JAMES
JOHNSON – Trompetista
RAFER
JOHNSON – Cabo Krump
MAE
MARSH – Senhora Nellie Hackett
TOBY MICHAELS – Lucy Dabney, a vítima
CHUCK
ROBERSON – Membro da Côrte Marcial
CHARLES
SEEL – Dr. Walter Eckner
CLIF
LYONS – Sr. Sam Beecher
FRED
LIBBY – Sr. Chandler Humble
ED
SHAW – Cris Humble
Produção e Pesquisa
PAULO TELLES
Próxima Matéria Será Sobre
RITA HAYWORTH
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