Embora
produzido para a televisão italiana em formato de minissérie, MOISÉS, O
LEGISLADOR (Mosè, la legge del deserto
ou em inglês Moses the Lawgiver) foi
lançado nos cinemas com grande repercussão. Dirigido por Gianfranco De Bosio, e
com roteiro de Anthony Burgess (1917–1993), o filme é uma obra conscienciosa e
inteligente para o público telespectador. Entretanto, difere bastante de Os Dez Mandamentos (The Ten Commandments, 1956) de Cecil B. DeMille, em todos os âmbitos, apresentando um Moisés "em carne e osso" como definiu o ator Burt
Lancaster (1913-1994), seu intérprete. Se a fita de DeMille oferecia efeitos visuais monumentais e exageradas citações bíblicas, com um Moisés "acima dos mortais" como o que interpretado por Charlton Heston - o filme de De Bosio fornece um script que eleva o líder dos hebreus a sua intensa humanidade, cheio de calos e consumido pelo deserto árido e infinito.
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O Diretor Gianfranco De Bosio |
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Burt Lancaster durante entrevista no lançamento da telessérie MOISÉS nos Estados Unidos, em 1974. |
Custando um orçamento de aproximadamente 6 milhões de dólares
e filmado em verdadeiros cenários bíblicos, que incluem o deserto de Negev,
Jerusalém, o Mar Morto, e o Mar Vermelho. Tudo foi minuciosamente pesquisado
para o filme, para que fosse demonstrada a maior autenticidade possível com
fatos históricos apresentados, o mais distante possível aos velhos épicos de
DeMille. Quem pôde explicar isso mais detalhadamente foi o próprio Burt
Lancaster, que concedeu entrevista em 1974 durante lançamento de MOISÉS, O
LEGISLADOR nos Estados Unidos, pela emissora americana CBS:
- Anthony Burgess
escreveu um roteiro magnífico, cheio de gênio e encanto. Teve o talento de
saber abordar a religião como algo que brota do povo, de suas necessidades, do
povo que sai a procura de Deus para manter-se. Choro quando penso num Moisés
dilacerado por todos aqueles atos terríveis ordenados por Deus e que roga ao
Senhor que não ponha tanto peso sobre seus ombros. E o diálogo de Burgess é
comovedor: “Senhor, não sou um homem como os outros, metido nas mesmas vestes
da liberdade de escolher?”.
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Anthony Burgess, escritor e roteirista de cinema |
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Lancaster como um Moisés em "carne e osso" como bem definiu. |
Lancaster se preparou definitivamente para o papel lendo atentamente o Velho Testamento, sentindo o peso de cada palavra, e lendo vários livros sobre Moisés, um dos quais apresentava como egípcio. O astro ainda acrescentou:
- A lenda mosaica é
anterior a Bíblia. Mas a melhor fonte que encontrei foram as 40 páginas de
erudição que a Enciclopédia Britânica dedicou a Moisés.
Lancaster ainda na mesma entrevista, não poupou mencionar
Cecil B DeMille:
- Ninguém poderá nos
acusar de ter tratado o Velho Testamento em “Moisés, o Legislador”, de forma
leviana. A verdade é que os espetáculos
de Cecil B. DeMille nada tinham a ver com a Bíblia. Eram épicos monumentais,
mas sem pretensão de ser religiosos, mesmo quando o velho DeMille afirmava o
contrário.
Lancaster se irritou ao ser comparado a Charlton Heston, o
Moisés do clássico Os Dez Mandamentos:
- Escutem, se Charlton
ficou encurralado em filmes bíblicos, a culpa é dele, porque foi ele que
aceitou a limitação. Afinal de contas, como disse Burgess, nós temos a
liberdade de escolha, depende do que nos satisfaz. Ajo por instinto, e se
alguma coisa me intriga, eu procuro faze-la logo.
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O Veterano Anthony Quayle como Aarão, irmão de Móisés (Burt Lancaster). Na presente foto, com Ingrid Thulin, que faz Miriam. |
MOISÉS, O LEGISLADOR, abrange toda a história do líder dos
hebreus, desde seu nascimento até sua primeira visão da Terra Prometida. A
realização da série foi possível graças ao apoio que uma cadeia de organizações
– a RAI, Radio Televisione Italiana (Roma) e a Independent Television
Corporation (Londres) – deu a um grupo de talentos formado pelo produtor
Vincenzo Labbela, o diretor De Bosio, e os atores de variadas nacionalidades, como Lancaster
dos Estados Unidos, Anthony Quayle (1913-1989) da Inglaterra, Ingrid Thulin
(1926–2004) da Suécia, e Irene Papas da Grécia.
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Lancaster com Irene Papas, que faz Zippora, sua esposa (foto acima). Na foto presente, Burt recebendo instruções do diretor italiano De Bosio (de costas). |
O roteirista Anthony Burgess optou em não seguir o texto
bíblico pela sua falta de unidade, pois pretendeu dar um dialogo moderno,
dinâmico, e atual ao seu “Moisés”. A maioria dos livros de Burgess é escrita
num clima de suspense que prende o leitor desde a primeira página até o fim. O
escritor declarou:
- De fato! A adaptação
de “Moisés” tem a mesma atração. Não que eu vá transformar a história do Êxodo
num Thriller, mas quero dar a mesma carga elétrica dos meus livros e contos,
com certa violência, determinação, e decisão. Forças são absolutamente
necessárias deste gênero. Não posso colocar nos diálogos versos bíblicos, senão
todos iriam dormir diante da televisão e meu objetivo é exatamente o contrário:
quero acordar o público e mostrar que Moisés foi um homem como nós. Moisés é o
deserto árido, contínuo, forte, misterioso, fascinante, infinito.
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Aarão e Moisés encontram o Faraó Mernephta (Laurent Tarzieff) |
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As filmagens de MOISÉS, O LEGISLADOR (TV - 1974) |
MOISÉS, O LEGISLADOR, foi apresentado na televisão italiana
com grande sucesso, com 8 episódios perfazendo sete horas de apresentação sem
comerciais. Foi feita uma versão para os circuitos comuns de cinema, com
duração de 141 minutos de projeção.
A
TRAMA
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A Princesa Bithia (Mariangela Melato) adota o bebê Moisés, salvo do decreto de morte aos hebreus recém nascidos. |
Preocupados com a expansão das tribos de Israel, o Faraó
egípcio Mernephta (Laurent Terzieff, 1935-2010) decreta que toda criança
hebreia do sexo masculino deve morrer. Entretanto, Moisés é salvo e criado na
corte egípcia.
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Criado na côrte egípcia, o jovem Príncipe Moisés (vivido por Bill Lancaster, filho de Burt) descobre sua origem hebreia. |
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Anos depois, seguindo as ordens de Deus, Moisés une-se a seu irmão Aarão (Anthony Quayle) para iniciar a libertação dos hebreus. |
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Moisés, sua esposa Zippora (Irene Papas) e seu filho. |
Anos depois, já Príncipe do Egito, o jovem Moisés (Bill Lancaster, 1947-1997 – filho de Burt), acaba matando um guarda do faraó para proteger um hebreu, e foge da corte. Acaba pairando no deserto, onde conhece Zippora (Irene Papas), filha do pastor Jethro (Shmuel Rodensky, 1904-1989), e acabam se casando. Mais tarde, Moisés (Burt Lancaster) ouve a voz de Deus e este ordena a libertação dos hebreus, e seu encaminhamento a Canaã.
Obtendo uma relutante permissão do faraó, Moisés divide o Mar
Vermelho e sobe ao Sinai para receber os Dez Mandamentos.
CURIOSIDADES
Foi Sir Lew Grade (1906-1998) que produziu esta minissérie épica,
e tentou fazer com que Lancaster também aparecesse em seu mais ambicioso
projeto para televisão, a obra Jesus de Nazaré,
dirigido por Franco Zeffirelli em 1977, com roteiro de Anthony Burgess. Mas
Burt recusou.
Vale destacar a maravilhosa trilha sonora do Maestro Ennio
Morricone e o belo trabalho de fotografia de Marcello Gatti (1924-2013). No
Brasil, o filme chegou as nossas salas de exibição com o título de Moisés,
o Profeta, com a metragem de 140 minutos de projeção.
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MOISÉS(1974/TV) exibido pelas salas do Rio de Janeiro em 1975. |
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Divulgação do filme pelos jornais do Brasil.
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FICHA TECNICA

MOISÉS
O
LEGISLADOR
(Mosè,
la legge del deserto)
PAÍS –
ITÁLIA
ANO – 1974
GÊNERO –
DRAMA BÍBLICO
DIREÇÃO –
GIANFRANCO DE BOSIO
PRODUÇÃO –
SIR LEW GRADE e VINCENZO LABELLA, para a RAI
(Radio e
Televisão Italiana)
ROTEIRO –
ANTHONY BURGESS
FOTOGRAFIA –
MARCELLO GATTI, EM CORES
MÚSICA –
ENNIO MORRICONE
METRAGEM
– 370 MINUTOS (TV) -
141 MINUTOS EM EXIBIÇÕES PARA CINEMA
ELENCO
BURT LANCASTER – MOISÉS
ANTHONY
QUAYLE – AARÃO
IRENE PAPAS –
ZIPPORA
INGRID THULIN – MIRIAM
MOSKO ALKALAI – AMRAM
AHARON IPALÉ – JOSUÉ
JOSEPH SHILOACH – DATHAN
MARINA BERTI – ELISEBA
MARIANGELA MELATO – PRINCESA BITHIA
LAURENT TERZIEFF – FARAÓ MERNEFTHA
BILL LANCASTER – JOVEM MOISÉS
JACQUES HERLIN – MÁGICO
DINA DORON – YOKABED
SHMUEL
RODENSKY – JETRO
MARIO
FERRARI – FARAÓ RAMSÉS II
SIMONETTA
STEFANELLI – COTBI
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Parabéns pelo ótimo trabalho de pesquisa e analise. Grato
ResponderExcluirAgradeço pela apreciação. Cumprimentos do editor.
ExcluirMuito boa essa sua matéria do MOISÉS
ResponderExcluirdepois de os dez mandamentos e barrabas esse é o terceiro melhor épico bíblico Para mim.