Em
1851, o escritor e dramaturgo Herman Melville (1819-1891) publicou um dos
romances mais famosos de todos os tempos, Moby
Dick. Em 1926, surgiu a primeira versão cinematográfica do livro, com o
título de A Fera do Mar (The Sea Beast), dirigido por Millard
Webb (1893-1935) e com John Barrymore (1882-1942) como o atormentado Capitão
Ahab, ainda na fase do cinema mudo.
Quatro anos depois, em 1930, o mesmo Barrymore repetiria o papel em
outra versão da história, agora com o título fiel ao romance, Moby Dick (Moby Dick), dirigido por Lloyd Bacon (1889-1955).
Toda trama descreve a odisseia do navio “Pequod”, que deixa
em 1841 o porto de New Bedford, Massachusetts, sob o comando de Ahab, uma
figura titânica que obstinadamente se entrega a busca da baleia branca de nome
Moby Dick, que lhe “roubou uma perna”, símbolo metafísico da divindade, força
onipresente e escravizante, em que o capitão vê um maligno ser racional a
atormentar a raça humana. O duelo
maniqueísta da novela original, redigida em prosa bíblica- Shakespeariana, é
transposto para o cinema em todas as suas nuances de blasfêmias e tragédias.
Richard Basehart (1914-1984) interpreta Ishmael, o marinheiro do “Pequod” que
acabou afundado e único sobrevivente do ataque da baleia a embarcação, sendo
ele o narrador dos fatos. Leo Genn (1905-1978) é o imediato Starbuck, que
receia pelo comportamento de Ahab e teme pela vida de seus marinheiros.
MOBY
DICK foi rodado durante seis meses em 1954 nas costas irlandesas de Youghal e
Fishguard, na Ilha da Madeira e nos Açores, estreando apenas dois anos depois,
isto porque Huston e o fotógrafo Oswald Morris (que também colaborou para o
diretor em Moulin Rouge, em 1952)
pesquisaram um novo estilo cromático de fotografia, mesclando negativos
coloridos e em preto & branco, gastando meses nesse trabalho até obter um
efeito pictorial então inédito na época.
MOBY DICK é o relato de uma espantosa caçada a uma fera do mar, mas mais um estudo áspero dos abismos profundos que a mente humana pode abrigar. Cheia de labirintos filosóficos, recordações históricas, arcaísmos e ensinamentos citológicos, trazidos do próprio livro de Melville. A princípio, esta obra prima do Mestre John Huston provoca aquela reação de enfadonho no espectador justamente pele mensagem um tanto filosófica, espectador este que busca apenas aventura e diversão. No entanto, seu impacto pictórico é tremendo e absorvente, quase superando o fator negativo que é o diálogo difícil.
Além
do elogio do cineasta, Peck ainda demonstrou grande coragem durante as
filmagens, pois as sequencias finais tiveram que ser feitas sem dublês, por
causa dos Close-Ups. A baleia era, na verdade, um enorme cilindro, ajustado
para girar numa marcha continua e havia o perigo da engrenagem parar enquanto o
ator tivesse submerso.
A Título de curiosidade, o livro de Melville teve uma
adaptação para a TV em forma de minissérie em 1998, dirigido por Franc Roddam,
tendo participação de Gregory Peck como o Reverendo Mapple, papel de Orson
Welles na versão cinematográfica de John Huston.
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Herman Melville, autor do romance Moby Dick. |
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A segunda adaptação cinematográfica em 1930, com John Barrymore. Em 1943, a Warner, produtora das duas adaptações com Barrymore, queria produzir uma nova versão, com direção de Lewis Millestone, e com Errol Flynn como Ahab, mas o projeto não andou. Entretanto, o gigantesco cetáceo albino foi o “pesadelo” de muito tempo para o cineasta John Huston (1908-1987) desde que leu o livro na juventude. A obsessão de Ahab em capturar a baleia parece encontrar paralelo com a do diretor, que sonhou em levar sua versão cinematográfica e colocar seu pai, o ator Walter Huston, no papel do insensato capitão dos mares. Em 1953, Huston convenceu a mesma Warner a bancar sua superprodução. Como Walter Huston já havia falecido, o cineasta pensou em seu velho amigo e colaborador Humphrey Bogart para interpretar Ahab, mas Boggie estava sob contrato com a Paramount e não poderia estrelar o filme. Desta forma, o escolhido foi o galã Gregory Peck (1916-2003) para desempenhar uma figura atormentada, amargurada, e psicótica, e Huston aprovou esta escolha por conta própria. |
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O diretor John Huston. |
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O galã Gregory Peck deixou a barba crescer, para interpretar uma figura atormentada. |
Além
de ser um grande épico de aventuras, a versão de MOBY DICK (Moby Dick, 1956) de
John Huston, assim como o romance original, é uma metáfora da luta do homem
contra o imponderável, ou como alguns creem e dizem, contra Deus. Huston se encarregou do próprio roteiro junto
ao escritor de ficção-científica Ray Bradbury (1920-2012), onde ao longo da
narrativa se abusa de símbolos e monólogos, revelando aos poucos a
personalidade obsessiva de Ahab (Gregory Peck), compartilhada por experiências
cromáticas do diretor e do fotógrafo Oswald Morris (1915-2014).
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Gregory Peck como Ahab. |
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Orson Welles como o Reverendo Mapple. |
O
cineasta e ator Orson Welles (1915-1985) manifestou desejo de interpretar o personagem
central para Huston, mas este recusou a ceder o papel que já era de Gregory
Peck. Em tom de brincadeira, alegou para Welles, já acima do peso, que não
haveria espaço para “duas baleias em seu filme”. Sem querer ser descortês para
com o amigo, Huston deu ao cineasta a parte do Reverendo Mapple, com breve
participação de Welles.
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Richard Basehart como Ismael, o narrador da história. |
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Leo Genn como Starbuck, o imediato de Ahab. |
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A tripulação do "Pequod", com Ahab no comando na captura a baleia. |
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Capitão Ahab, obcecado em capturar Moby Dick, a baleia que o mutilou. |
MOBY DICK é o relato de uma espantosa caçada a uma fera do mar, mas mais um estudo áspero dos abismos profundos que a mente humana pode abrigar. Cheia de labirintos filosóficos, recordações históricas, arcaísmos e ensinamentos citológicos, trazidos do próprio livro de Melville. A princípio, esta obra prima do Mestre John Huston provoca aquela reação de enfadonho no espectador justamente pele mensagem um tanto filosófica, espectador este que busca apenas aventura e diversão. No entanto, seu impacto pictórico é tremendo e absorvente, quase superando o fator negativo que é o diálogo difícil.
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O ator Jose Ferrer visitando Huston e Peck durante as filmagens. |
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Peck, Leo Genn, e Huston, em momento de descontração num intervalo de filmagem. |
Mas MOBY DICK tem passagens antológicas que devem ser destacadas,
entre elas a morte de Ahab, emaranhado nas costas dos arpões que penetravam nas
carnes do gigantesco cetáceo. Apesar de
bem sucedido nas bilheterias, a atuação de Gregory Peck foi criticada. Mas John
Huston defendeu o ator, e ao longo de sua vida o cineasta sempre considerou um
de seus melhores filmes e um de seus prediletos, considerando uma injustiça as
criticas a atuação de Peck como Ahab.
Huston declarou:
“Pessoalmente, acho que
Greg Peck deu dignidade ao papel de forma soberba. Ele revelou a obsessão de
Ahab através das palavras ditas suavemente, numa perturbadora, controlada
intensidade de pensamento e ação, como se sua alma tivesse sido trespassada por
um relâmpago. Fora do bombástico e desvairado psicótico do romance original e
nem como foi retratado por John Barrymore, como os fãs costumam lembrar”.
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A coragem de Gregory Peck em desempenhar uma cena de risco, sem dublê. |
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O Cast de Moby Dick (1956), e seu diretor. |
MOBY DICK É uma realização cinematográfica extraordinária,
que o espectador comum possa achar cansativa, mas que é imperativo para uma
elite cultural que vê no cinema além de ação e magia a pura arte do
entretenimento.
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Peck no remake para TV de Moby Dick, minissérie de 1998, no papel do Reverendo Mapple. |
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Divulgação do filme pelos jornais nas salas cariocas por volta de 1957. |
FICHA TECNICA
MOBY DICK
(Moby Dick)
País –
Inglaterra/Irlanda
Ano –
1956
Gênero
– Drama/Aventura
Direção – John Huston
Produção – John Huston e Vaughan N. Dean para a Warner Brothers
Roteiro – John Huston e Ray Bradbury
Música
- Philip Sainton
Fotografia
– John Huston e Oswald Morris, em Cores
Metragem
– 116 minutos.
ELENCO
Gregory
Peck – Capitão Ahab
Richard Basehart – Ishmael
Leo Genn – Starbuck, o imediato
James Robertson Justice – Capitão Boomer
Orson Welles – Reverendo Mapple
Harry Andrews – Stubb
Bernard Milles – Manxman
Royal
Dano - Elias
Noel
Purcell – Carpinteiro
Edric Connor – Dubb
Melvyn Johns – Peleg
Friedrich Ledebur – Queequeg
Joseph
Tomelty - Peter Coffin
Francis
De Wolff - Capitão Gardiner
Seamus Kelly – Flask
Produção
e Pesquisa
PAULO TELLES
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