BATMAN,
O HOMEM MORCEGO (Batman, The Movie), produzido em 1966, é um longa-metragem
planejado justamente para anteceder a famosa série de TV (1966-1968), que fez
muito sucesso na década de 1960. Como não deu tempo, o filme foi lançado no
final da primeira temporada para atrair o público de outros países e vender
mundialmente a série. As mesmas cenas com a Bat-Lancha e o Bat-Cóptero, feitos especialmente
para o longa, seriam usadas também na série, para economia das filmagens.
O
filme foi dirigido por Leslie H. Martinson (1915-2016), conceituado diretor de
televisão, e muito embora não consiga manter o mesmo ritmo da série de TV, ele
tem como atrativo maior os quatro grandes vilões em cena: a Mulher Gato (Lee
Meriwether, que substitui Julie Newmar, a gata original da TV. Meriwether é
mais conhecida na telinha como a Doutora Ann, da série Túnel do Tempo, 1966); o Coringa (Cesar Romero, 1907-1994); o
Pinguim (Burgess Meredith, 1907-1997); e o Charada (Frank Gorshin, 1933-2005).
Os
vilões se reúnem com o propósito de unirem forças para dominar
o mundo. Mas como eles farão isso? Simplesmente desidratando e transformando em
pó colorido todos os membros das nações do mundo durante uma reunião na sede da
ONU em Gotham City, com o auxílio de uma pistola especial. Enquanto isso, a Mulher
Gato, disfarçada de uma jornalista russa, seduz o milionário Bruce Wayne/Batman,
em cenas no mínimo quentes para os padrões da série de TV. Aliás, era a
primeira vez que se via no cinema uma relação mais íntima entre o herói e a
vilã.
Batman
e seu parceiro Robin se envolveriam em situações absurdas onde combatem vilões
ultrajantes. As brigas cheias de onomatopeias (Pow! Booom! Capow! Biff! Kayo! Rip! Sock! Zap! Crás!),
com alusão as histórias em quadrinhos. Os diálogos, embora muitas vezes
pudessem parecer ridículos, era um reflexo dos acontecimentos que então
vingavam na sociedade entre os americanos. O Batman da TV era um assíduo moralista sem qualquer hipocrisia, a
ponto de muitas vezes falar aos vilões que o
crime não compensa ou o Bem Sempre Triunfa sobre Mal. Não era um Batman com gratuidade para a violência e excessivamente implacável como
se veria tempos depois no cinema e nos quadrinhos, mas um herói a ponto de
ainda acreditar na reabilitação do ser humano. O alter ego do morcegão, Bruce Wayne, é um milionário
filantropo que preside além da Fundação Wayne, instituições para recuperação de
criminosos (que eram apenas mencionados na série). Mas nem todos os criminosos querem
se regenerar, uma vez que os arqui-inimigos do herói o veem como um ser
patético e careta, e constantemente são presos e depois voltam à vida
criminosa.
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Leslie H. Martinson, diretor. |
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Os quatro arqui-inimigos de Batman: Pinguim (Burgess Meredith), Charada (Frank Gorshin), Mulher Gato (Lee Meriwether) e o Coringa (Cesar Romero). |
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Lee Meriwether é a Mulher Gato, que se disfarça da... |
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...jornalista russa Kitika, que tem intenção de... |
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...seduzir e raptar o milionário Bruce Wayne (Adam West), sem saber que ele é o Batman. |
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William Dozier, Produtor. |
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Bob Kane, o criador de Batman, entre Adam West e Frank Gorshin. |
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O seriado de cinema BATMAN, de 1943, com Lewis Wilson (Batman) e Douglas Croft (Robin).
BATMAN, O HOMEM MORCEGO já pretende ser desde início uma
aventura escrachada. O personagem criado de forma dramática e séria em 1939 por
Bob Kane (1915-1998) e Bill Finger (1914-1974) para a revista Detective Comics,
já havia sido adaptado duas vezes para o cinema, nos seriados Batman (Batman,
1943) e Batman e Robin (Batman and Robin, 1949). Em 1965, os direitos de filmagem do personagem
pararam nas mãos de William Dozier (1908-1991), que nunca leu uma aventura em
quadrinhos do Homem Morcego, cuja familiaridade com Batman estava justamente
nos seriados do cinema dos anos 40. Com o roteirista Lorenzo Semple Jr
(1923-2014), Dozier concebeu BATMAN como uma série de aventuras ao estilo dos
velhos seriados das matinés, com um humor anárquico e auto-ridicularizador, com
um herói obsessivo defensor dos valores impostos pela sociedade americana.
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Cesar Romero como Coringa. |
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Burgess Meredith como o Pinguim. |
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Frank Gorshin como o Charada. |
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Adam West (BATMAN) e Burt Ward (ROBIN) em BATMAN, O HOMEM MORCEGO (1966). |
Apesar da mensagem moral para os americanos que a série de TV
do BATMAN transmitia, o programa era recheado de humor camp, a começar pela fotografia em cores berrantes e ângulos
bizarros (no filme para o cinema, o responsável é o especialista Howard Schwartz, 1919-1990), e um vestuário bem carnavalesco. Para apimentar ainda mais o
escracho, vários astros e estrelas de Hollywood foram recrutados para o time de
vilões, como Vincent Price (Cabeça de Ovo), George Sanders e Eli Wallach (Sr.
Gelo), Roddy McDowall (O Traça) e Joan Collins (A Sereia). O cineasta Otto
Preminger ainda fez uma participação também como o Sr. Gelo.
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Adam West como Batman |
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Burt Ward como Robin, o "Menino Prodígio". |
Em BATMAN, O HOMEM MORCEGO, a mensagem moral também
não passa despercebida. Batman e Robin são venerados pelo povo de Gotham,
que se sente aliviada logo no início da projeção quando o Bat-Cóptero sobrevoa
a cidade. Os comentários de cada cidadão transpiram satisfação e alegria por
saberem que a Dupla Dinâmica esta no encalço dos criminosos e
eles não permitirão que a tranquilidade lhes seja roubada. Tal atitude bem
revela a frustração humana ao sublimar a sua segurança numa figura mítica e
fantasiosa. Isto não ocorre naturalmente somente com Batman, como também com
outros Super-Heróis.
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A verdadeira identidade de Batman (Bruce Wayne), o Bat-Móvel, e o Bat-Cóptero, são dos muitos pontos na produção BATMAN, O HOMEM MORCEGO (1966). |
Batman
e Robin são frutos do tempo da imaginação e do medo que sempre acompanharam a
História da Humanidade. Era preciso criar a ilusão da segurança para que o
homem gozasse da inércia e fugisse do mundo real em que vive, onde a injustiça
e a fome superam os crimes e os desajustamentos individuais. Como tantos heróis
(seja no cinema ou nos quadrinhos) que cativaram a imaginação do público,
BATMAN é a necessidade de uma metamorfose humana, imposta ou aceita, que muitas
vezes tem a tendência de conduzir o homem mais para um estado de inércia do que
propriamente em participar e ir à luta. Assim é o escapismo.
Batman, O Homem Morcego,
começa dedicando o filme aos “Amantes da Justiça, da Aventura, do Escapismo
puro, e do Ridículo”. E ainda pedem desculpas a “algum amante que porventura
tenha sido esquecido”. Certamente, um tipo de amante não mencionado e não
esquecido são os fãs da série de TV e de seus famosos protagonistas:
BATMAN/Adam West (1928-2017) e ROBIN/Burt Ward.
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O Homem Morcego tentando se livrar de uma bomba e a luta do herói contra um tubarão são os momentos mais memoráveis em BATMAN, O HOMEM MORCEGO (1966). |
O momento mais hilário e divertido acontece logo no início,
quando Batman (Adam West, morto em junho do ano passado), pendurado na escada
do Bat-Cópetro pilotado por Robin (Burt Ward), é mordido por um tubarão
(visivelmente de borracha) que fica agarrado em sua perna. O Menino Prodígio deixa o Bat-Cópetero no piloto automático e
desce para entregar um Bat-spray
anti-tubarão ao herói. Robin, como um ex-trapezista
de circo, entrega o spray para Batman
de cabeça para baixo, que tasca a providencial arma no animal, que... explode!
Como diria Robin: “Santa Cascata Submarina!”.
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Como na série de TV, o filme para o cinema não podia faltar o Bat-Móvel, a Bat-Lancha, e as Bat-Lutas, cheias de onomatopeias. |
Outra sequencia memorável é quando Batman,
desesperado, corre pelo cais do porto tentando se livrar de uma ridícula bomba
ao estilo de desenho animado (preta redonda e com o pavio fumegante). O herói
não consegue se livrar do trambolho, pois por onde quer que vá esbarra com
freiras, namorados, e até uma inocente família de patinhos (uma mensagem de
preocupação com a ecologia). Robin chega a questionar Batman porque pegou o
artefato para salvar aquela “gentinha do cais”. A resposta do herói atende o
tom moral com mensagem simplista do personagem, na clássica série de TV:
- Também são seres
humanos Robin. E um dia eles podem se arrepender.
Podemos ver também a dupla sendo salva da morte certa por uma
liquidação de colchões, e os heróis correndo lado a lado pela cidade, numa
descarada cena de fundo azul.
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Além dos heróis, participam do longa Stafford Repp (Chefe O' Hara) e Neil Hamilton (Comissário Gordon). |
Alan Napier (o mordomo Alfred) e Madge Blake (Tia Harriet). |
Em BATMAN,
O HOMEM MORCEGO, ainda tem atores que são parte
integrante da série de televisão, como Neil Hamilton (1899-1984) como o
Comissário Gordon, Alan Napier (1903-1988) como o mordomo Alfred, Stafford Repp
(1918-1974) como o Chefe O’Hara, e Madge Blake (1899-1969) como Harriet
Cooper, tia de Dick Grayson/Robin. A trilha sonora é de Nelson Riddle
(1921-1985), que também colaborou (junto com Neal Hefti) na série televisiva. A
película chegou às salas do Rio de Janeiro em dezembro de 1966.
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Divulgação do filme pelos jornais e panfletos do Cine-Palácio, Rio de Janeiro, em 1967. |
Ficha TEcnica
O HOMEM MORCEGO
(Batman)
País
– Estados Unidos
Ano
de Produção – 1966
Gênero
- Aventura
Direção
– Leslie H. Martinson.
Produção
– William Dozier e Charles B. Fitzsimons, para a 20ª Century Fox.
Roteiro
– Lorenzo Sample Jr, baseado nos quadrinhos de Bob Kane e Bill Finger.
Fotografia - Howard Schwartz (em Cores).
Música
– Nelson Riddle.
ELENCO
Adam West – Batman/Bruce Wayne
Burt Ward – Robin/Dick Grayson
Lee
Meriwether – Mulher Gato/Kitika
Cesar
Romero – Coringa
Burgess Meredith – Pinguim
Frank Gorshin – Charada
Alan Napier – Alfred
Neil Hamilton – Comissário Gordon
Stafford Repp – Chefe O’ Hara
Madge Blake – Tia Harriet Cooper
Reginald Denny – Comodoro Schmidlapp
Milton Frome – Vice Almirante Fangschliester
Gil Perkins – Bluebeard
Dick Crockett – Morgan
George Sawaya – Quetch
Produção e pesquisa
Paulo telles
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