Dalton
Trumbo (1905-1976), uma das vítimas do Caça
as Bruxas do Macartismo, escreveu O ASSASSINATO DE UM PRESIDENTE (Executive
Action), obra política produzida em 1973, que buscou ser uma
especulação plausível sobre os fatos secretos e um tanto misteriosos que
desencadearam o tiroteio da Praça Dealey de Dallas, ao meio dia e meia do dia
22 de novembro de 1963, o cenário do assassinato do Presidente dos Estados
Unidos John Fitzgerald Kennedy (1917-1963).
Segundo a
versão de Trumbo, um grupo de ricos industriais e autoridades de extrema
direita, compostas por Burt Lancaster (1913-1994), Robert Ryan (1909-1973), e
Will Geer (1902-1978), planejaram e executaram o atentado, com a meticulosidade
e a frieza de uma operação científica. Aliás, como diz literalmente o título
original, orquestraram uma Ação Executiva.
Vale destacar que os brilhantes Lancaster, Ryan, e Geer eram, na vida real,
artistas filiados ao Partido Democrata Americano, o total oposto aos
personagens que interpretam.
O tropismo
pela violência é denunciado por Trumbo como um processo maligno no seio da
história americana, embora venha a tratar, é claro, de mera hipótese ficcional
com base em dados e dúvidas da realidade concreta. E a película busca revelar
os desencantos da América contemporânea do mesmo modo que Trumbo traçou em Sua última façanha, estrelado por Kirk
Douglas e produzida em 1963, um magnifico western
moderno que ele escreveu para David
Miller (1909-1992) e Edward Lewis, respectivamente diretor e produtor desta fita e que viriam a desempenhar as mesmas funções em O Assassinato de um Presidente.
Não deixa de
ser impressionante a liberdade de expressão que permitiu a confecção de uma
obra como esta, investindo ostensivamente contra as verdades estabelecidas pelo
Comitê Warren e oficializadas pelo
governo de Washington. Um dos argumentistas do filme, Mark Lane, lançou em 1966
o livro Rush to Judgment, famoso Best
Seller da época, que defendeu a tese que que Kennedy foi alvejado por três
tiros desfechados por franco-atiradores e não como reza o relatório de Warren,
que Lee Harvey Oswald (1939-1963) teria sido demiúrgico e inocente bode
expiatório para uma conspiração armada por um complexo industrial militar no
reacionário meio sulista, e insatisfeito com o risco de uma dinastia Kennedy na
Casa Branca, e com medidas inquietantes do presidente americano.
Tais medidas
apontavam o tratado de interdição de testes atômicos, projeto de
remoção de tropas do Vietnã, e a integração racial. O livro de Mark foi transformado
em documentário homônimo, realizado em 1967 por Emilio de Antonio, e com texto
e narração do próprio Lane. Logo, O Assassinato de um Presidente é um
similar ficcional do livro Rush to
Judgment, de Mark Lane.
Também
imaginando um complô contra o presidente Kennedy, mas sem derramamento de
sangue, Sete dias de Maio foi
produzido pelo mesmo Edward Lewis (ainda vivo) e com o mesmo ator Lancaster
(junto a Kirk Douglas), mas curiosamente a morte de John Kennedy obrigou Lewis,
na ocasião, a protelar por alguns meses o lançamento do filme. Dez anos depois,
O Assassinato de um Presidente, de
1973 trouxe as telas o último desempenho do notável ator Robert Ryan, que mesmo
doente, já havia feito cinco filmes num curto espaço em seus últimos três anos
de vida. Ator de envergadura e talento, Ryan brilhou no cinema até seu último
suspiro, falecendo a 11 de julho de 1973, em Nova York.
Com O Assassinato de um Presidente, Mark Lewis
estava ressurgindo com outra ficção política, tirando essa ou aquela suposição
mais que discutível (como a mobilização de um sósia para incriminar Oswald,
ligando seu nome peculiarmente a atividades subversivas) e a ausência de
documentos disponíveis (faz falta o filme de 8 mm do alfaiate Abraham Zaprudor,
decisivo para demonstrar que os disparos partiram também da frente da limusine
presidencial). A versão aqui apresentada procura preencher as falhas do Relatório Warren, considerando não um,
mas três franco-atiradores. E sem dúvida, concretiza na tela o pensamento da
maioria dos espectadores que nunca aceitaram a versão oficial do crime em
Dallas.
Em
particular, causam impacto dois letreiros inseridos a título de informação
complementar. O primeiro, na introdução da fita: Antes de sua morte, o Presidente Lyndon Johnson deu entrevista filmada
de três horas à TV, em 2 de maio de 1970. Quando transmitida em rede nacional
nos EUA, incluía mensagens de que certas partes tinham sido suprimidas à pedido
do Presidente Johnson. Foi revelado que na parte censurada da entrevista,
Johnson tinha demonstrado apreensão a respeito da afirmação de que Lee Harvey Oswald
teria agido sozinho, e de que de fato, ele suspeitava de que teria havido uma
conspiração no assassinato de John F Kennedy.
E o filme se
encerra com outro letreiro: Nos três anos
que se sucederam aos assassinatos de JFK e Lee Harvey Oswald, 18 testemunhas
materiais morreram. Seis foram mortas a tiros, três em acidentes de carro, duas
suicidaram-se, uma foi degolada, uma foi morta a golpe de Karatê no pescoço, três
de ataque cardíaco, e duas de causas naturais. Um relatório feito pelo “London
Sunday Times” concluiu que, no dia 22 de novembro de 1963, as chances dessas
testemunhas estarem mortas até fevereiro de 1967, eram de 160 mil trilhões,
para uma.
Passados
mais de 40 anos de sua realização, O
ASSASSINATO DE UM PRESIDENTE ainda influencia o espectador a uma opinião
quanto à trama conspirativa sobre a morte de JFK, aliás, diversos filmes e livros
ainda exploram muito bem sobre o tema.
Produção e Pesquisa de
Paulo Telles.
O
ASSASSINATO DE UM PRESIDENTE
(EXECUTE
ACTION)
Ano:
1973
País:
EUA
Direção:
David Miller
Produção:
Edward Lewis
Roteiro:
Dalton Trumbo
Fotografia:
Robert Steadman (cores)
Metragem:
91 minutos
ELENCO:
Burt Lancaster- James Farrington
Robert Ryan - Robert Foster
Will Geer - Harold Ferguson
John Anderson -Halliday
Paul
Carr -Atirador
Ed
Lauter - Chefe de Operação
Walter Brooke- Smythe
Lee Delano - Atirador 2