Este Artigo foi publicado originalmente em 9 de Julho de 2013,
durante o embalo do lançamento do filme O
CAVALEIRO SOLITÁRIO (THE LONE RANGER, 2013), com Johnny Depp e Armie Hammer
respectivamente como o índio Tonto e o Cavaleiro
Solitario (ou Zorro, se preferir). O presente artigo foi atualizado em 23 de
fevereiro de 2017.
O Cavaleiro Solitário (The Lone
Ranger) percorre a imaginação de crianças e adultos ao longo de
80 anos desde que surgiu na rádio, passando para o cinema em forma de seriado,
e posteriormente, para uma famosa série televisiva produzida entre 1949 a 1957,
estrelada por Clayton Moore (1914-1999) e que fez muito sucesso. The Lone Ranger também foi bem sucedido nos livros e
nos quadrinhos, e aqui no Brasil, foi terrivelmente confundido com ZORRO, cujo
personagem nada tinha a ver, embora ambos fossem heróis mascarados.
Mas a
finalidade desta matéria, além de esclarecer estas e outras curiosidades a mais
sobre este fascinante herói que voltou as telas em um filme dirigido por Gore
Verbinski (e não bem sucedido) - é também fazer conhecer as origens do Cavaleiro Solitário e sua criação.
O novo filme conta com o astro Johnny Depp no papel do parceiro de
aventuras do herói mascarado, o índio Tonto, personagem imortalizado na antiga
série televisiva por Jay Silverheels (1912-1980). Por isto vamos lá!
O
CAVALEIRO SOLITÁRIO: RÁDIO, CINEMA E TELEVISÃO.
HI YOOOO SILVER! Avante!!! – é o grito que ecoa pelas pradarias
cada vez que uma aventura do Cavaleiro
Solitário chega ao fim de mais uma aventura. Porém, suas origens remontam
na Rádio.
O CAVALEIRO SOLITÁRIO (The Lone
Ranger) foi criado
para uma série radiofônica por George Washington Trendle (1894-1972) e teve suas primeiras
histórias escritas por Fran Striker (1903-1962). Sua estreia foi a 30 de janeiro de 1933,
quando o primeiro de seus 2.956 episódios foi ao ar pela rádio WXYZ (que mais
tarde se tornou a Mutual Broadcasting Network). A série foi transmitida com
episódios inéditos até 1954. George Seaton e Jack Deeds foram os dois primeiros
atores a interpretar o herói no rádio. Earle Graser foi à terceira voz do
Cavaleiro Solitário, sendo substituído por Bruce Beemer após sua morte. Vários
elementos da série de rádio ficaram fazendo parte da mitologia do herói. A
frase "Hi Yo Silver, away!" e o tema musical do herói, que é um
trecho da ópera Guilherme Tell – escrita por Gioacchino Rossini (1792-1868),
são alguns dos exemplos mais marcantes.
Tudo começa
em 1933 numa pequena emissora de Detroit, que iniciou uma série radiofônica
onde relatava as aventuras de um misterioso mascarado que combatia o mal no
Velho Oeste. O sucesso foi tamanho que passou a ser transmitido através de uma
grande rede de emissoras. A partir de então, O Cavaleiro Solitário e seu fiel amigo e companheiro, o índio
Tonto, não pararam mais, e passaram a ganhar vida nova em cada veículo de comunicação.
Chegou até mesmo a ganhar uma versão brasileira nas rádios daqui, numa imitação
chamada “O Vingador”, de Péricles Amaral, em 1944.
Assim com o
estrondoso sucesso na Rádio, foi à vez do CINEMA materializar o famoso
personagem. A Republic Pictures, a produtora dos saudosos seriados das antigas
matinês, realiza em 1938, O Grande
Vingador (The Lone Ranger), onde The
Lone Ranger era interpretado por Lee Powell (1908-1944). Powell foi o
primeiro a retratar o herói nas telas da Sétima Arte, mas teve uma vida breve,
já que morreu em 1944 enquanto lutava durante a II Guerra Mundial (serviu como
fuzileiro naval), mas há controversas se morreu mesmo em combate ou por
intoxicação.
O Sucesso
estava destinado ao Cavaleiro Solitário sem sombras de dúvida, e do fenomenal
sucesso do 1º filme, veio a sequencia de mais um seriado: A Volta do Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger Rides Again), onde
desta vez, o personagem foi interpretado por Robert Livingstone (1904-1988).
Nos dois primeiros filmes, o parceiro de aventuras do herói, o índio Tonto, foi
interpretado por Chief Thundercloud
(1899–1955), um legítimo índio cherokee.
Nos anos de
1950, O Cavaleiro Solitário surge
numa superprodução em cores e em Cinemascope: O Justiceiro Mascarado (The Lone Ranger), e Zorro e a Cidade do Ouro Perdido (The Lone Ranger and The Lost City), também
exibido em nossos cinemas brasileiros como Zorro
e o Ouro do Cacique, ambos estrelados por Clayton Moore e Jay Silverheels,
respectivamente como o Cavaleiro solitário e seu parceiro Tonto, que foram os
astros da série televisiva iniciada em 1949 até 1957.
A série era
semanal e fez muito sucesso, dando popularidade a Moore como um autêntico The Lone Ranger (muito embora Clayton
saísse por um período da série, sendo substituído por John Hart, mas o público
amava tanto Moore que fizeram protestos pela sua volta, e ele voltou), e a Silverheels, um legítimo índio
moicano, nascido em uma reserva do Canadá, a ser um carismático Tonto.
Em 1981, a
Sétima Arte voltou a dar vida ao personagem, com o longa A Lenda do Cavaleiro Solitário (The Legend of the Lone Ranger), protagonizado
por Klinton Spilsbury como o herói mascarado, Michael Horse como Tonto, e o
futuro astro Christopher Lloyd como o vilão Cavendish. Ainda nos anos de 1980,
o herói e seu parceiro ganharam versão em desenho animado para a TV.
Em 2003, uma
tentativa de levar o herói de volta a uma série televisiva em um piloto que não
decolou sob o título de The Lone Ranger para
a Turner Network Television (TNT), foi estrelado por Chad Michael Murray (Lone
Ranger) e Nathaniel Arcand (Tonto), contudo não houve êxito.
O
CAVALEIRO SOLITÁRIO NOS GIBIS – A CONFUSÃO COM O CAVALEIRO SOLITÁRIO E O ZORRO
Foi nas
Histórias em Quadrinhos que o personagem ganhou mais terreno para sua cavalgada
interminável, mas ao fim, teve uma vida limitada. Nos Estados Unidos, o sucesso
da série na Rádio levou a King Features, em 1938, a lançar uma tira diária com
o famoso cowboy mascarado e seu parceiro índio. Desenhada inicialmente por Ed
Kreesay, a tira passou logo a ter outros desenhistas, pois Kressay foi
considerado muito ruim pelos leitores. Um ano depois, a King Features entrega a
tira para Charles Flanders, um desenhista experiente, que logo passou a ter seu
trabalho associado à figura do Cavaleiro Solitário.
Em fins de
1947, sai, finalmente, a primeira revista dedicada ao herói, publicada pela
Dell Publishing, e os primeiros autores de histórias originais para os comics são Paul S. Newman e Tom Gill.
Alguns anos depois, a revista é cancelada, mas volta através de outra editora,
a Golden Key, que fez uma publicação irregular até 1977.
NO BRASIL, O CAVALEIRO SOLITÁRIO surge um ano
depois de ser publicado nos jornais americanos, nas páginas da revista GIBI TRI-SEMANAL, sendo saudado como o
“Campeão do Oeste” e “O Mais famoso mocinho das Histórias em Quadrinhos”.
Contudo, foi cometido um erro que atravessou anos e gerações de leitores. O
personagem foi batizado de ZORRO.
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ESTE SIM, É ZORRO |
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ZORRO É UM HERÓI CAPA & ESPADA CRIADO POR JOHNSTON McCULLEY |
O “Zorro" do faroeste, O CAVALEIRO SOLITÁRIO, que tem como
companheiro o índio Tonto, nunca teve nenhuma relação com o Zorro oficial
criado pelo escritor Johnston McCulley (1883-1958) em sua célebre obra "A Maldição de
Capistrano" cujo herói capa & espada foi levado às grandes telas
inúmeras vezes, e cujas personificações mais famosas são as de Douglas
Farbainks e Tyrone Power, além de uma série de TV produzida pelos estúdios
Disney com Guy Williams, e um remake do clássico estrelado por Power, que aqui
acabou sendo substituído por Frank Langella. Don Diego de La Vega nada tem a
ver com John Reid, a verdadeira identidade de The Lone Ranger.
Com o passar
do tempo, O Cavaleiro Solitário passa a ser publicado em várias revistas, todas
da Rio Gráfica e Editora, e durante 15 anos, The Lone Ranger, comumente conhecido por nós brasileiros de
“Zorro”, cavalga de uma revista diferente para outra, até encontrar o seu lar
definitivo (por 30 anos, encerrando suas publicações em janeiro de 1985),
quando em 1954, a EBAL- Editora Brasil-América, que resolve dar uma revista
própria ao herói, apesar de já publicar em quadrinhos as famosas histórias do Zorro Capa & Espada (Don Diego),
baseadas nas histórias de Johnston McCulley (em Portugal, The Lone Ranger é conhecido como O Mascarilha). A Editora do saudoso Adolfo Aizen (1907-1991)
manteve em Cavaleiro Solitário o nome
de Zorro, e a empresa manteve DOIS
ZORROS em seu circuito de publicações. E desde então, muitos passaram a
confundir os personagens, cujas características bem diferem.
A
ORIGEM DO LONE RANGER
A Trajetória
do Cavaleiro Solitário começa no Texas, depois da Guerra Civil Americana
(1861-1865). Seguindo as pegadas do irmão mais velho, Daniel Reid, que era
capitão dos Texas Rangers, o jovem John Reid (verdadeiro nome do
personagem) ingressa na organização que tinha a finalidade de manter a Lei e a Ordem
ao longo do Rio Grande.
A origem
deste Justiceiro Mascarado remonta a um ataque da famigerada quadrilha de Butch
Cavendich contra 6 rangers comandados
pelo Capitão Reid. Emboscados numa ravina estreita e de paredes altas, o único
sobrevivente é exatamente o irmãos mais novo do capitão, John Reid. Abandonado
para morrer no local, em agonia, é encontrado por um índio. Dias depois, ao
recuperar os sentidos, o jovem se vê no interior de uma caverna, sendo tratado
por Tonto.Enquanto convalesce, John sabe que fora o único sobrevivente do
massacre (e é assim que surge a origem do seu nome. Tonto lhe diz: “Você é o único ranger que escapou” – “The Lone
Ranger” em inglês: mas a palavra lone também
significa “Solitário”).
Após dias de
recuperação, John Reid e Tonto enterram os mortos, e para enganar a quadrilha
de Cavendish, fazem uma sepultura a mais. E, ali, diante das seis sepulturas,
John Reid passa a ser considerado morto, para sempre, pois ele resolve assumir
um disfarce – uma máscara preta sobre os olhos feita com um pedaço do colete do
irmão, exatamente a parte da roupa onde estivera pregada a estrela de prata de
“defensor da lei”.
Daí em
diante, o Cavaleiro Solitário e Tonto não descansam mais, percorrendo todo o
Oeste em sua cruzada contra as forças do mal. As pausas são apenas para se
reabastecer ou fazer visitas à mina de prata de um velho amigo ranger aposentado chamado Jum, que
fornece o material para as famosas baças de prata que alimentam o revólver mais
temido entre os bandidos.
O CAVALEIRO
SOLITÁRIO, de vez em quando, viaja disfarçado, tirando a máscara preta,
assumindo depois outra identidade. Contudo, jamais mostra o rosto, nem mesmo
para o leitor dos quadrinhos, ou para o espectador das telas do cinema e da
televisão. Talvez seja essa uma das características que mantém o
personagem envolto em fascínio e mistério. Em todas as suas aventuras, conta
sempre com a ajuda de Tonto, o seu amigo fiel que o chamava de “Kemo Sabay”,
que significa “batedor de confiança”, e que também, na infância, teve a vida
salva pelo Cavaleiro Solitário.
TONTO
TONTO, o
fiel companheiro e amigo de The Lone
Ranger, é da tribo potowatomi, Tal nome estranho significa “fazedores de
fogo”, para lembrar a época remota em que se separaram dos Ojibwaya para
fazerem sua própria fogueira do conselho, ou seja, se estabeleceram como tribo
separada.
Embora filho
do chefe, Tonto acompanhava a mãe em sua tarefa: colher o alimento principal da
tribo, o arroz silvestre. Mal começou a andar, passou a acompanhar o pai no
conselho da tribo e foi com ele que aprendeu tudo que sabe: ler uma pista,
disparar uma flecha, etc. Como os
potawatomi eram hábeis remadores e nadadores, Tonto logo aprendeu a deslizar na
canoa de casca de árvore do pai, para caçar e pescar. Mas a fogueira do
conselho dos potawatomi se apagou e Tonto é agora o último de sua outrora
orgulhosa tribo, dizimada por um ataque dois índios sioux.
Ao ver sua
tribo liquidada, o menino Tonto corre para cima do chefe sioux, mas uma dúzia
de guerreiros o segura para mata-lo. De
repente, um tiro. E mais outros. Os Sioux fogem apavorados com os disparos
certeiros que atingiram alguns dos seus companheiros, e Tonto fica só, livre,
para conhecer o seu salvador: um jovem texano que o destino ia tornar seu
companheiro e amigo alguns anos mais tarde. Antes de partir, o futuro Cavaleiro
Solitário tira uma pena vermelha do cocar do chefe morto e a coloca na faixa
que Tonto usa em volta da cabeça, pois ele teve a coragem de um adulto e merece
aquela honra.
Os dois se
separaram, mas, anos depois, voltam a se encontrar em situação semelhante.
Desta vez, é Tonto que salva a vida do jovem texano, como todos podem saber.
SILVER
A História
deste belo cavalo branco é tão surpreendente quanto a de seu famoso dono. No
início da perseguição do Cavaleiro Solitário a Butch Cavendish- o inimigo que
irá enfrentar vezes sem contar – o bandido mata a sua montaria e o herói
mascarado fica sem cavalo. Precisando urgentemente de outro animal, e tendo
ouvido falar de um lendário garanhão no Vale dos Cavalos Selvagens, o Lone Ranger segue para lá, com Tonto. De
fato, encontra-se o magnífico cavalo, só que chega no momento exato em que o
garanhão branco luta contra um búfalo. Quase à morte, é salvo por uma bala de
prata que matou o búfalo.
O Cavaleiro
Solitário e Tonto, então, permanecem no vale e cuidam do cavalo, até ele se
recuperar. Curado, o garanhão se prepara para deixar o vale e ganhar novamente
a liberdade, mas para alguns metros adiante, hesita e volta para juntos de seus
salvadores. Como os flancos do animal brilham à lus do sol, tonto fala: “é
prateado” (Silver, em inglês), e assim é batizado.
SILVER já
nasceu príncipe. Seu pai é o Rei Silvano, o chefe dos cavalos que vagam pelo
Vale dos Cavalos Selvagens, e sua mãe, a bela Mousa. Do pai, Silver herda a
valentia, pois sempre luta pela liberdade, nunca se deixa aprisionar. Da mãe
herda a graça e a beleza. E é no vale, onde o homem nunca botou o pé e a relva
é sempre verde que Silver aprende a andar, trotar, encontrar grama debaixo da
neve e a livra-se do ataque do perigoso Puma.
O
CAVALEIRO SOLITÁRIO 2013
O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger, 2013) é uma produção da
Walt Disney Pictures, com orçamento de US$ 250 milhões, que leva ao cinema uma releitura deste personagem tão carismático e cativante ao longo de 80 anos
de existência.
Na nova trama
sobre o personagem, ele se envolve na conquista do Oeste e na construção de
ferrovias por magnatas inescrupulosos. O espírito guerreiro do nativo americano
Tonto (Johnny Depp) narra as histórias que transformaram John Reid (Armie
Hammer, na difícil e impossível carga
de substituir o carismático Clayton Moore), um homem da lei, em uma lenda da
justiça – enquanto os dois heróis improváveis precisam aprender a trabalhar
juntos e lutar contra a ganância e a corrupção.
O elenco
contou ainda com William Fichtner, Tom Wilkinson, Barry Pepper, James Badge
Dale, Helena Bonham Carter e Ruth Wilson. A direção ficou a cargo de Gore
Verbinski, que já trabalhou com Depp e o produtor Jerry Bruckheimer nos três
primeiros Piratas do Caribe. Apesar de todos os requintes e qualidades da produção e da direção, nada pôde salvar do fiasco e do fracasso de bilheteria esta releitura de The Lone Ranger, nem mesmo Johnny Depp que reviveu o índio Tonto, por um simples motivo: Transformar um herói nobre, de personalidade séria, moral, e dramática como era o Cavaleiro Solitário, para um patego sem noção que é esculachado por Tonto, não era o que o público, principalmente que acompanhou as aventuras com Clayton Moore, queria assistir. E se a intenção era agradar um público mais jovem, nem assim conseguiu. Assim, THE LONE RANGER, de 2013,se tornou um dos maiores desastres do ano. Certamente, Clayton e Jay Silverheels se reviraram de seus túmulos (pelo menos Clay, já que Jay foi cremado!)