Em 1949, o
produtor norte-americano Samuel Bronston (1908-1994) viajou por um
período de dez anos por toda a Europa, penetrando na área de cinema de
outros países para conseguir mais experiência. Durante este longo período,
Bronston amou especialmente a Espanha, e quando finalmente se achou com firmeza
para iniciar a fase de produções cinematográficas, inaugurou seus estúdios em
terras espanholas. Em 1959, o produtor lançou um projeto faraônico:
instalou um mega-gigantesco estúdio em Las Rozas, perto de Madrid, e patrocinou uma série de
superespetáculos épicos, destacando-se: Rei
dos Reis (1961), El-Cid (1961), 55 Dias em Pequim (1962), e A Queda do Império Romano (1964). Foi o
insucesso comercial deste último que deixou Bronston à beira da falência.
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O Mega Produtor Samuel Bronston |
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O produtor Samuel Bronston em conversa com a atriz italiana Claudia Cardinale. |
Contudo,
antes mesmo de declarar falência, Bronston ainda tentou uma última cartada, produzindo O Mundo Do Circo/Circus
World, em 1964. Entretanto, a resposta das bilheterias para este último
investimento do produtor (que só produziria mais quatro filmes depois deste
trabalho: Terra Selvagem, em 1966; The Mysterious House of Dr. C. em
1976; A Seita dos Mormons em 1977; e Forte Saganne, em 1984) não foi o
suficiente para aplacar o colapso financeiro de suas empresas. Mas o filme reflete as intenções
grandiloquentes de Bronston, onde incluem pelo menos duas sequencias de grande
efeito cênico: um desastre de transatlântico e um incêndio de circo – colocadas
estrategicamente no meio e no fim da longa narrativa de 131 minutos de
projeção.
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O Cineasta Nicholas Ray. |
Tendo
dirigido para Samuel Bronston dois épicos, Rei
dos Reis e 55 Dias em Pequim, o
lendário diretor Nicholas Ray (1911-1979) rompeu com o produtor após sofrer um
colapso cardíaco devido ao stress e
as ansiedades de Bronston durante as filmagens de 55 Dias em Pequim. Contudo, o
cineasta acabou deixando em poder do produtor um argumento de sua autoria,
co-escrito por Philip Yordan (1914-2003), que serviu de base para O Mundo do Circo. Ray acabou vendendo
para Bronston os direitos da história.
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O roteirista Ben Hecht |
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O roteirista James Edward Grant. |
Curiosamente,
esta produção de Bronston veio a ser também o último script do celebrado Ben Hecht
(1894-1964), que faleceu durante as filmagens, dividindo os créditos do
roteiro com James Edward Grant (1905–1966) e Julian Zimet.
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John Wayne, Rita Hayworth, e Claudia Cardinale: O MUNDO DO CIRCO (1964) |
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Wayne entre Claudia e Rita, no fabuloso mundo do circo! |
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John Wayne é Matt Masters, empresário de circo que reencontra uma antiga paixão, Lili (Rita Hayworth) |
A frente de
um elenco primoroso e toda composta de estrelas – Rita Hayworth (1918-1987),
Claudia Cardinale, Lloyd Nolan (1902-1985), e Richard Conte (1914-1975) –
cintila o magnetismo de John Wayne (1907-1979), já sofrendo de câncer
pulmonar, que seria logo diagnosticado após o término das filmagens. No outono
de 1964, Wayne se submeteria a uma cirurgia para extirpar um dos pulmões, mas
continuou ativo praticamente até a morte, quinze anos depois.
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John Wayne entre John Smith, Claudia Cardinale, e Lloyd Nolan: O MUNDO DO CIRCO |
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Matt Masters, Steve McCabe (John Smith) e Toni (Claudia Cardinale) |
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A sequencia do incêndio que quase provocou a morte de Wayne durante as filmagens de O MUNDO DO CIRCO |
Os problemas
de Wayne não ficaram apenas com o diagnóstico do câncer. Durante as filmagens
de O Mundo do Circo, Duke quase morreu na sequencia do
incêndio do circo, quando o set em
chamas caiu muito próximo dele, devido a uma falha de comunicação entre o ator
e os assistentes de filmagem.Wayne vive Matt Masters, um empresário norte-americano que leva seu circo por grand tournée pela Europa.
Além de promover o espetáculo e tentar sanar os problemas dos componentes da trupe,
ele tem uma outra tarefa importante a cumprir: tentar encontrar a ex-mulher, Lili (Rita Hayworth), que o abandonara anos antes, deixando a filha do casal, Toni (Claudia Cardinale) para ele criar.
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Matt e Lili. |
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Matt apresenta sua filha Toni a Lili. |
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John Wayne, Dimitri Tiomkin, e James Edward Grant. |
Rita
Hayworth faz a mãe de Claudia Cardinale e ela concorreu ao Globo de Ouro pelo
papel. A eterna Gilda, aos 46 anos,
ainda esbanjava beleza, se tornando mais humana e melhor atriz com o tempo,
muito embora seja penoso pensar que grande parte de suas atuações de qualidade
foram motivadas por seu alcoolismo. Já nessa época, a atriz já vinha sofrendo
os primeiros sintomas do Mal de Alzheimer, doença que a mataria em 1987.
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Muita descontração nos intervalos de filmagem. |
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Richard Conte também é um dos destaques de O MUNDO DO CIRCO |
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O Fabuloso Mundo do Circo. |
Mas por que
uma produção com todos requintes de qualidade e um cast all star como Circus
World não obteve o sucesso esperado, não conseguindo salvar os
estúdios de Bronston da bancarrota que se encontrava?
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Richard Conte e Rita Hayworth: O MUNDO DO CIRCO (1964) |
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Um dos estúdios de Samuel Bronston, na Espanha |
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O cineasta Frank Capra, um dos Mestres da Sétima Arte. |
Piadas a
parte, há quem diga que foi “praga” de Frank Capra (1897-1991), que iria
dirigir o filme e chegou a viajar para Madrid para iniciar as filmagens.
Contudo, quando chegou lá, ele não quis se submeter as maquinações do
roteirista James Edward Grant junto com o amigo John Wayne, e para completar o
trio, Samuel Bronston, que levaram o notável cineasta de A Mulher faz o Homem, O
Galante Mr .Deeds, A Felicidade Não se Compra, a ser afastado. Assim,
Henry Hathaway (1898-1985), por sugestão de Wayne, assumiu a direção.
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John Wayne, Claudia Cardinale, e o diretor Henry Hathaway |
O Mundo do Circo consumiu vários milhões de dólares
na produção e fabulosas verbas de publicidade no seu lançamento, mas os
resultados foram um mega-desastre de proporções irreparáveis.
Em toda a
história, nunca existiu um gênio de publicidade que conseguisse vender um "mau
produto" para certos padrões de qualidade, gastasse quanto fosse, levando infelizmente Samuel Bronston, talvez o mais extravagante, perdulário, e desorganizado produtor de
cinema de toda a história a uma ruína definitiva, perdendo todo o controle
sobre seus filmes anteriores.
Em análise
aprofundada, se o filme fosse dirigido por Frank Capra, talvez Circus World viesse a se tornar uma magistral obra prima sob a assinatura de um dos grandes Mestres da
Sétima Arte, fazendo toda a fita valer seu peso em ouro, atraindo multidões para as salas de cinema, e ainda de
quebra salvasse da falência o seu produtor.
Embora longe de ser um clássico, O
Mundo do Circo remete um período de bom entretenimento para os espectadores
da Sétima Arte. Visto hoje, parece datado, mas reunir três grandes nomes das telas como Rita Hayworth, John Wayne, e Claudia Cardinale em um único filme já valeria o ingresso. Afinal, respeitável público,o circo é o fabuloso mundo dos espetáculos, onde o cinema faz aqui a sua devida parte.
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Divulgação do filme para as salas de cinema do Rio de Janeiro. Jornal Carioca, 1966. |
Circus World
País
: Estados Unidos/Espanha
Gênero: Drama
Ano
de Produção: 1964
Tempo
de Duração: 131 minutos
Direção: Henry Hathaway
Produção:
Samuel Bronston para a Paramount Pictures
Roteiro: Ben Hecth, James Edward Grant, e Julian Zimet
Trilha
Sonora: Dimitri Tiomkin
Fotografia:
Jack Hildyard e Claude Renoir (em cores)
JOHN WAYNE ----MATT MASTERS
RITA
HAYWORTH ----LILI ALFREDO
CLAUDIA
CARDINALE ----TONI ALFREDO
LLOYD NOLAN ---- CAPITÃO CARLSON
RICHARD CONTE ---- ALDO
JOHN SMITH ----STEVE McCABE
KATHARYNA --- GIOVANA
KATHARINE KATH ---- HILDA
WANDA
ROTHA--- SENHORA SCHUMAN
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Sétima Arte completa cem anos.
Telles,
ResponderExcluirOlha bem o que eu vou lhe dizer: QUEM NÃO SABE REZAR, XINGA DEUS.
Já dizia minha avó materna e eu nunca vi ditado mais coerente, forte, poderoso e certo.
Veja: o Bronston, o "importante" Duke e etc, simplesmente rejeitaram, ou mandaram "as favas", o homem que poderia fazer do filme uma outra coisa, ou seja, exatamente o que o megalômano do Bronston desejava. Porém, os egos superiores, ou tidos como, enxotaram o grande cineasta para longe e, no seu lugar, puseram um "amigo" do Duke. Resultado; porrada na cabeça dos importantes e filme no esgoto. Boa, ótimo, sensacional, porque não se faz com um homem como o Kapra uma sacanagem daquelas.
Olha; o Grant era um roteirista de respeito. Gosto de seus trabalhos, pois é bom. No entanto, se junta com dois "daqueles" e não deve ter tido a hombridade de ficar do lado do magistral diretor. Não, puxando o saco trilhou pelo mais fácil e melhor caminho para ele.
Ora; o que queriam? Que o Hathaway, um cineasta completamente alheio ao gênero e fazedor de westerns se transformasse num De Mille e construisse um mega filme?
Por Cristo como a fita pode até ser muito bela e até bem feita. Mas isso não é tudo para o sucesso de um filme.
Um filme desse porte e gênero tem de ter a classe e a sensação, ou vertente, de que tudo aquilo ali é mesmo um Circo! Uma fita deste porte necessita de uma visão de mestre, da qualidade de um profissional de fato e de um homem que já conhece a vida e o sucesso.
Para se criar algo daquela grandeza é necessário que seu diretor seja pessoa que tenha em si a absorvição de tudo que a vida lhe mostrou no comando de outros espetáculos.
Este precisa ser dono de algum conhecimento do ramo (fator que sei o Kapra tentar arregimentar, catar, buscar para o seu trabalho). Também é necessário doses de olho calejado e clinico, além de muito mais.
Entretanto, os "importantes" preferiuram o Hathaway e lenharam-se, escafederam-se, foram ao fundo do poço, à bancarrota. Claro que aqui e com tudo o que digo não estou a desmerecer a qualidade do Hathaway. A situação aqui é outra, muito outra.
Amigo; não consigo ver a Rita já alquebrada nestas fotos. Ao contrário; a vejo com um amadurecimento que lhe fez muito bela e apresentável. Pelo que observei das fotos ela no filme deve estar lindissima, apesar dos inicios dos problemas que lhe negaram a qualidade de vida no futuro mais à frente.
Agora; alquebrada mesmo ela esteve em 1972, quando fez do Ralph Nelson e com o Mitchum, A Divida Ira. Realmente estava quase irreconhecível. Lamentavelmente!
Telles; minha sinceridade me conduz a vos informar que eu JAMAIS OUVIRA FALAR DESTA FITA.
Pode parecer incrível eu, uma pessoa que viu quase tudo que o Duke fez, desconhecer completamente a existencia desta película. Mas...faz parte. Passo a conhecer, e bem.
Foi uma boa matéria e bem ilustrada. Gostei de ler sobre o que desconhecia e passar a saber de fatos que eu imaginava que somente ocorriam dentro de Empresas que trabalhamos.
Isto de conluios, de fuxicos e de futricas (foi o que fizeram com o Kapra) vejo que são ocorrências de grandes meios também.
É de lamentar, mas os homens são mesmo iguais, estejam eles em que patamares da vida social em que estiverem.
jurandir_lima@bol.com.br
Olá meu amigo baiano, Ju!
ExcluirHombre vc falou tudo, e disse tudo! É triste ver como astros que tanto idolatramos nas telas não são tão diferentes de nós, mas isso é humano, amigo, pois não existe perfeição em nenhum de nós. Mas estou de acordo que foi grande sacanagem MESMOOOOO este trio fazer o que fez com Frank Capra. O roteirista James Edward Grant escolheu o lado mais fácil que acabou se tornando o lado mais difícil, e mesmo porque pouco tempo depois ele iria falecer. Wayne já estava com câncer nessa época e teve que se submeter a uma cirurgia que acabou lhe extirpando um dos pulmões, e mesmo depois de ter tido uma recuperação, ainda assim o BIG C (como ele apelidava a doença) voltou de modo implacável, vindo a falecer em 1979. E Bronston? Bronston não morreu desprovido de recursos, mas poderia ter aproveitado seus últimos anos como multi-milionário se não fosse além da conta.
Acho que tais exemplos servem mesmo como espelhos para todos nós. Mas no fim, quem teve a maior bem aventurança foi o querido FRANK CAPRA, que viveu feliz o resto de seus dias até falecer em 1991, com 94 anos de idade. Ele não precisou de Bronston, Wayne, e Grant, que demostraram muita burrice em não querer contar com a experiência e o profissionalismo deste grande cineasta. Henry Hathaway que me perdoe, ele era um ótimo cineasta para WESTERNS, mas para outros gêneros (com exceção de O BEIJO DA MORTE, 1947, com Richard Widmark e Victor Mature), ele não demonstrava tanta competência.
Rita Hayworth!
Quando ela fez O MUNDO DO CIRCO, ela estava na fase inicial da Doença de Alzheimer, muito embora sua beleza madura ainda escondesse esse fato. Assistindo a IRA DIVINA, ótimo faroeste com Mithum e ela como a mãe do doentio Frank Langella, ela já não era nem sombra da afrodisíaca beleza que fora. Uma pena, amigo!
Abraços do editor e amigo!
Telles,
ResponderExcluirO grande e bom editor fez das minhas suas palavras.
Obrigado pela honra, mas faz parte de nossa estirpe ser sinceros, honestos e justos em todos momentos de nossas vidas.
Abraço enorme do bahiano
Jurandir_lima@bol.com.br
É o que acredito veementemente, meu amigo!
ExcluirUm forte abraço!