Nos
dias de hoje, se questiona muito a combinação do talento e da beleza. Uns
acreditam que tal combinação é impossível, mas outros acreditam que as duas
coisas podem ser perfeitamente combinantes, e tal prova que isso é verdade que
o cinema teve uma das mais brilhantes estrelas de sua constelação, a sueca
Ingrid Bergman (1915-1982). Notável atriz de porte, ela não só exercia
fascinação por seu talento como também por sua beleza. Contudo, sua vida foi
cheia de desafios, e ousou em nome de sua felicidade enfrentar todos os
protocolos e edifícios morais de sua época, enfrentando até mesmo o boicote de
Hollywood e o ódio do público americano. Vamos lembrar Ingrid Bergman, uma das
atrizes mais fascinantemente belas que a Sétima Arte teve o prazer de se
render.
Ingrid Bergman nasceu a 29 de agosto de 1915, em Estocolmo, capital
da Suécia. Sua mãe morreu quando ela tinha apenas dois anos e seu pai, um
fotógrafo que transmitiu a ela o amor pelo teatro, morreu quando ela tinha doze.
Logo, Ingrid foi morar com um tio idoso. A mulher que seria uma das principais
estrelas de Hollywood tinha decidido a se tornar uma atriz depois de terminar
seu estudo colegial.
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Ingrid aos catorze anos |
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Ingrid aos dezenove estreando no cinema sueco |
Depois de algumas atuações no Teatro, estreou no cinema em 1934.
Dois anos depois, ela já era uma estrela consagrada na Suécia, o que levou, em
1930, o lendário produtor David O’ Selznick (1902-1965) a convida-la para o
cinema americano. Os filmes responsáveis pela transição da atriz do cinema europeu
para o americano tinham o mesmo argumento e o mesmo título – Intermezzo. A primeira versão (1936),
dirigida por Gustav Molander (1888-1973), e o remake americano (1939) dirigido por Gregory Ratoff (1897-1960).
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Intermezzo - a versão sueca de 1936. Ingrid ao lado de Gosta Ekman |
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Intermezzo- Uma História de Amor, versão americana de 1939. Ingrid e Leslie Howard. |
Ainda em sua pátria, em 1937, Ingrid se casou com o dentista Petter
Aron Lindström, com quem teve uma filha no ano seguinte, Pia. Com Intermezzo, Uma História de Amor, de 1939, a real oportunidade
hollywoodiana de Ingrid só veio em 1941, ao viver Ivy Peterson, mulher
torturada por Mr. Hyde na versão de O Médico e o Monstro/Dr Jekill and Mr Hyde,
de 1941, estrelado por Spencer Tracy e Lana Turner.
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O Médico e o Monstro - Ingrid com Spencer Tracy e Lana Turner |
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Ingrid, entre Spencer Tracy e Lana Turner - O Médico e o Monstro, DE 1941 |
Entretanto, foi só em 1943 que ela tomou parte da película que seria
o símbolo do Romantismo no Cinema, e talvez, o mais amado pela sua legião de
fãs – Casablanca/Casablanca, dirigido pelo
lendário Michael Curtiz (1886-1962), ao lado de Humphrey Bogart.
CASABLANCA - O ÁPICE DO SUCESSO.
Tudo começa quando um famoso produtor, Hall B. Wallis (1899-1986)
tinha em mãos uma peça jamais encenada intitulada Everibody Comes to Rick’s, de autoria de dois dramaturgos
desconhecidos, Murray Burnett e Joan Alison. Pouco antes da II Guerra estourar
na Europa, estes dois autores visitaram uma boate no sul da França, onde se
reuniam expatriados e um homem negro que tocava Blues no piano. Logo, isso serviu de inspiração para Murray e Joan
comporem um enredo, transformando em um melodrama sobre Ricky Blaine, um típico
valentão americano proprietário de um bar chamado “Casablanca”, tendo como
personagens um simpático negro chamado Sam, seu pianista, além do chefe da
polícia francesa capitão Louis Renauld, e claro, Ilsa Lund, ex-namorada de
Ricky, envolvida com um líder da resistência tcheca, Victor Lazlo.
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Com Humphrey Bogart - Casablanca, 1942 |
A princípio, vários estúdios recusaram a peça. Contudo, Jack Warner
(1892-1978), um dos chefes da Warner Brothers, decidiu compra-la pela soma
principesca de 20 mil dólares. O contrato padrão da Warner exigia que os autores
transferissem para o estúdio todos os direitos de “todo tipo e espécie, para
quaisquer fins”. Murray Burnett (que ainda vivia, contando com mais de 70 anos)
começou a processar a Warner em 1983 na tentativa de reassumir os direitos
sobre os personagens de Casablanca, contudo
sem sucesso.
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Bogart e Ingrid - símbolo do antigo romancismo hollywoodiano |
Warner chamou os peritos para redigir o script e se voltou para a questão do elenco. Quem iria integrar nos
personagens principais? Para viver Ricky, Wallis optou por ninguém menos que
Humphrey Bogart (1899-1957), embora ficasse irritado por pegar um papel antes
oferecido a George Raft, que rejeitou.
Wallis tinha problemas para contratar Ingrid Bergman para o papel.
Ele ficou impressionado com o desempenho da atriz como a pianista de Intermezzo, uma História de Amor, seu
primeiro filme americano, mas Ingrid estava presa a um contrato com o mais
possessivo dos patrões que se tem notícia na meca do cinema, o lendário David
O’ Selznick. Selznick, sem dúvida, foi o único homem em Hollywood capaz de
receber a radiante Ingrid Bergman dizendo “Meu
Deus! Tire os sapatos!” Ela respondeu que não adiantaria nada, já que com
ou sem sapatos ela media 1m75.
Mas Jack Warner pensava em um jeito de como ele poderia tirar Ingrid
de Selznick. Chamou os roteiristas que mal tinham começado o script, e mandou que fossem visitar e
persuadir Selznick, contando-lhe que tinham escrito uma história excepcional
para ela. Selznick não gostou nada do enredo que os homens de Warner estavam
comentando com ele, se levantou e bateu na mesa dizendo – “Era o que eu queria saber! Podem levar a Bergman.
“A única atriz com qualidade
luminosa, a ternura e o calor necessário para viver Ilsa”, recordava Hal
Wallis sobre Ingrid em seu papel em Casablanca.
O Clássico dirigido por Michael Curtiz arrebatou o Oscar de melhor filme de
1943, ganhando também pela própria direção e roteiro adaptado (Julius J.
Epstein, Phliph G. Epstein, e Howard Koch).
Durante as filmagens, Ingrid parecia preocupada com o fato de
ninguém saber como o filme iria terminar nos bastidores, se Ilsa ficaria com
Ricky (Bogart) ou viajaria com Lazlo (Henreid). Era problemático pois a
perfeição de sua atuação dependeria desta informação, afinal, por quem Ilsa
estava realmente apaixonada. Ela teve que seguir o conselho de Michael Curtiz –
“Apenas interprete, bem, jogue um meio
termo”. Ingrid mais tarde diria que isso não passava de uma situação
ridícula – “todos tínhamos que filmar de
improviso. Todos os dias nos entregavam diálogos e tentávamos por algum sentido
naquilo. Ninguém sabia o rumo do filme”- dizia Ingrid.
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Poster de Casablanca |
Pode ser que a infelicidade de Ingrid e de todo o elenco de Casablanca tenha sido o sucesso do
filme. A incerteza de Bergman em relação a qual dos dois varões devia amar não
era problema, mas sim o aspecto essencial da personagem que interpretava. Ela
estava louca para viver Maria em Por Quem
Os Sinos Dobram a seguir, e a atriz Vera Zorina (1917-2003) inspirou Ingrid
a retratar Ilsa com aquele ar maravilhosamente nostálgico. Paul Henreid se
queixava que nenhum líder da Resistência desfilaria em Casablanca de Vichy de
terno branco, mas se saiu bem exatamente em função da espiritualidade
ligeiramente pretenciosa, implícita no tal terno branco. Até o compositor Max
Steiner (1888-1971), encarregado de compor a trilha sonora, estava infeliz. Ele
odiava As Time Goes By, mas mal soube ele que justamente esta canção se tornou o símbolo do romantismo cinematográfico. Outro
problema foi a diferença de altura entre o par romântico Bogart & Ingrid.
Ingrid media 1m75 enquanto Bogart media oficialmente 1m68, e para as cenas que
reuniam os dois, Bogart precisava subir em uma plataforma para poder ficar
equiparado ou mais alto que Ingrid. Seja como for, tudo foi superado, e Casablanca se tornou um dos títulos mais lendários da fase de ouro de Hollywood, o arquétipo do cinema romântico americano, se tornando um dos maiores clássicos do cinema mundial, consagrando Ingrid Bergman como estrela no cinema americano.
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Como Maria, a revolucionária em Por quem os sinos dobram, 1943 |
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Com Gary Cooper - Por Quem Os Sinos Dobram |
POR QUEM OS SINOS DOBRAM.
O primeiro filme colorido de Ingrid Bergman extraído do dramático
livro de Ernest Hemingway (1899-1961), Por
Quem Os Sinos Dobram de 1943, sobre
um aventureiro americano chamado Robert Jordan, vivido por Gary Cooper
(1901-1961), um especialista em explosivos que tenta ajudar uma guerrilheira,
Pilar (Katina Paxinou) a destruir uma ponte estratégica na Espanha durante a
Guerra Civil, vivendo um romance com Maria (Ingrid Bergman).
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Ingrid e Gary, posando para foto ao lado do diretor Sam Wood e da atriz grega Katina Paxinou, no intervalo de filmagem de Por Quem os Sinos Dobram |
Com direção do
impecável Sam Wood (1883-1949), com roteiro do renomado Dudley Nichols
(1895-1960), e com a cenografia de William Cameron Menzies (1896-1957, o
responsável pelos sets de E O Vento Levou),
constitui exemplo acabado do romantismo hollywoodiano muito em voga nos anos de
1940. A imortal música de Victor Young (1900-1956) foi a segunda trilha sonora
a ser gravada em discos, pela Decca (a primeira havia sido Mowgli, o Menino Lobo, de Miklos Rosza, lançado em discos de 78 rpm
em 1942, sob o selo da RKO). Katina Paxinou (1900-1973) recebeu o Oscar de
melhor atriz coadjuvante de 1943.
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Ingrid em A Meia Luz, 1944 |
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Ingrid, apreciando seu primeiro Oscar |
A MEIA-LUZ – O PRIMEIRO OSCAR
Sob regência de George Cukor (1900-1983), e baseado em peça teatral
de Patrick Hamilton, A Meia Luz/Gaslight,
de 1944 trouxe a Ingrid Bergman seu primeiro Oscar de melhor atriz.
Ela interpreta Paula Alquist, a esposa que o marido, o pianista
Gregory Anton (Charles Boyer, 1899-1978), tenta fazer enlouquecer, para ficar
com as joias deixadas pela tia dela, assassinada por ele mesmo alguns anos
antes na mesma casa onde eles moram agora. A sanidade mental de Paula é salva
pela simpatia e pelas investigações de um detetive, vivido por Joseph Cotten
(1905-1994). O filme também foi a estreia da brilhante Angela Lansbury no
cinema.
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Com Charles Boyer - A Meia Luz |
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A emoção de Ingrid na noite do Oscar de 1945 |
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Depois da premiação, um bate papo com Jennifer Jones |
A 15 de março de 1945, e sob a primeira transmissão de uma cerimonia
do Oscar por uma cadeia de Rádio- a ABC- Ingrid Bergman recebeu a estatueta de Jennifer
Jones (que havia ganhado no ano anterior pela Canção de Bernadete), derrotando atrizes de peso como Claudette
Colbert (por Desde que partistes),
Barbara Stanwyck (por Pacto de Sangue),
Bette Davis (por Vaidosa), e Greer
Garson (por Senhora Parkington, a Mulher
Inspiração), que concorriam também ao Oscar para melhor atriz do corrente
ano.
OUTROS SUCESSOS
Após o sucesso de A Meia Luz e
com seu primeiro Oscar arrebatado, Ingrid foi uma freira em Os Sinos de Santa Maria/The Bells of St
Mary, em 1945, contracenando com Bing Crosby (1904-1977), e dirigido por
Leo McCarey (1896-1969).
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Com Bing Crosby - Os Sinos de Santa Maria - 1945 |
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Com Gregory Peck - Quando Fala o Coração - 1945 |
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Novamente com Gary Cooper -A Mulher Exótica - 1946 |
Ainda no mesmo ano, um exercício de suspense e
primeira parceria entre Ingrid e o Mestre do Suspense, Alfred Hitchcock
(1899-1980), em Quando Fala o
Coração/Spellbound, ao lado de
Gregory Peck, com trilha sonora marcante de Miklos Rozsa (1907-1995). No ano
seguinte, Ingrid repete parceria com Gary Cooper na atuação e Sam Wood na
direção em A Mulher Exótica/Saratoga
Trunk, aventura boa de época.
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Ao lado de Cary Grant - Interlúdio - 1947 |
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Com Cary Grant em Interlúdio |
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"Amavelmente vulgar" em O Arco do Triunfo - 1948 |
Ainda em 1946, Ingrid se une novamente a
Hitchcock em Interlúdio/Notorious, tendo como seu galã Cary Grant (1904-1986). Na
cerimônia de entrega do Oscar de 1946, Grant declarou – “Acho que a Academia deveria reservar um prêmio especial para Ingrid
Bergman todos os anos, faça ela filmes ou não”.Contudo, nem tudo foi sucesso para a atriz, que angariou seu
primeiro fracasso em O Arco do
Triunfo/Arch of Triumph, em 1948 e direção de Lewis Millestone (1895-1980).
JOANA D'ARC.
Ingrid Bergman sempre sonhou em interpretar Joana D’Arc (1412-1431),
heroína, mística, guerreira, e mártir da França, entretanto por ironia o papel
parecia se esquivar da atriz. Tão logo ela embarcou para os Estados Unidos em
1939 a convite de David O’ Selznick, este telegrafou recomendando que dissesse
à imprensa em Nova York que Ingrid estava chegando para interpretar Santa
Joana, mas um assessor de publicidade de Selznick foi espera-la no cais e
avisou: “Não fale muito sobre Joana D’Arc,
por favor!”. O projeto de Selznick em produzir um filme sobre a santa nunca
se concretizou. Contudo, seis anos depois, o dramaturgo Maxwell Anderson
(1888-1959) telefonou para Ingrid, perguntando se ela não estaria interessada
em fazer uma peça na Broadway.
-Sua peça é a respeito de que?
– perguntou Ingrid
Ela concordou na lata, sem ter lido a peça. E depois de ter lido,
foi dar um passeio com Anderson na praia de Santa Mônica e ali assinou o
contrato. Na semana seguinte após o primeiro ensaio para a peça em Nova York,
ironicamente David O’ Selznick anunciou a imprensa que ia fazer um filme sobre
Joana D’Arc, estrelada por Jennifer Jones (sim, a “Santa Bernadete”!), entretanto,
tal projeto não seguiu.
Joan
of Lorraine, de Maxwell Anderson, não era exatamente sobre
a vida de Joana D’Arc, mas sobre uma companhia teatral que ensaiava uma peça
sobre Santa Joana. Mas não satisfeita, a indômita Ingrid incitava o dramaturgo
a escrever mais sobre a heroína e ele a atendia. A peça estreou
espetacularmente na Broadway em 1946, rendendo grandes elogios para a atriz.
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Entre Richard Deer e Ray Teal - Joana D'Arc - 1948 |
Victor Fleming (1889-1949), que tinha dirigido Bergman em O Médico e o Monstro em 1941, estava
insistindo que a atriz filmasse com ela a peça. Juntos, montaram uma companhia
produtora independente, com Walter Wanger (1894-1968) como produtor. Em 1948, é
lançado Joana D’Arc/Joan of Arc, onde
além do brilho da estrela de Ingrid, despontam nomes famosos como Jose Ferrer,
Ward Bond, George Coulouris, Gene Lockhart, J. Carrol Naish, Ray Teal, Hurd
Hatfield, Morris Ankrum, John Ireland, entre outros, em uma verdadeira
superprodução que obteve os Oscars de melhor foto a cores e vestuário a cores,
além de um Oscar especial para Walter Wanger por sua “contribuição de estatura
moral dada ao mundo”. O filme também registrou o último trabalho do diretor Fleming,
que morreu em 1949.
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Poster de Joana D'Arc - 1948 |
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Observando Jose Ferrer, durante intervalo de Joana D'Arc - 1948 |
Joana
D’Arc fez sucesso de público, até na Europa, apesar de desprezado pela
crítica. Anos mais tarde, em 1970, Ingrid assistiu ao filme em uma reprise pela
televisão, e reavaliou o seu trabalho e a obra, descobrindo o quanto era
artificial: ”Tinha aquele aspecto
homogêneo e polido de Hollywood” – disse ela – “Todas as cenas de batalha foram feitas em estúdio: as torres de Chinon
e as cidadezinhas francesas eram panos de fundo pintados. Não me achei nem um
pouco parecida com uma camponesa. Parecia só uma atriz de cinema fazendo o
papel de Joana. Rosto limpo, penteado, bonito (...) Ao pensar nisso, suponho
que começaram aí minha rebelião e ressentimentos instintivos.
ROBERTO ROSSELLINI
Ao período que Ingrid Bergman esteve na Broadway, caminhou sozinha
pelas ruas quando viu um cartaz com o filme Paisà,
de 1946, dirigido pelo cineasta italiano Roberto Rossellini (1907-1977),
trabalho este que realizou depois do clássico Roma-Cidade Aberta (1945). Ingrid entrou e assistiu ao que
considerou “outro grande filme”. No entanto, o cinema estava praticamente
vazio. Ela própria estava cansada dos “valores de produção hollywoodiana”, com
cenários elaborados, penteados sempre perfeitos, música orquestral surgindo no
fundo, e entre outras coisas. Tão logo ela assistiu o último trabalho do
renomado diretor italiano, ela decidiu que queria fazer um filme com
Rossellini. Sendo a mulher teimosa e indômita que ela, resolveu escrever uma carta
para Rossellini: “Caro Sr. Rossellini, vi
seus filmes “Roma :
Cidade Aberta” e “Paisà” e gostei muito deles. Se precisar de uma atriz sueca
que fale inglês muito bem, não esqueceu o alemão, e ainda não é muito
inteligível em francês, e de italiano só sabe “ti amo”, estou pronta para fazer
um filme com o senhor”.
Ingrid falava fluentemente cinco idiomas: inglês, Sueco, Francês,
Alemão e Italiano.
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Ingrid e Roberto Rossellini, durante as filmagens de Stromboli. O Início de um rumoroso caso de amor fora das telas. |
Qualquer diretor no mundo teria telefonado imediatamente para
convida-la para pegar o primeiro avião. A bela estrela de Casablanca e Por Quem os
Sinos Dobram, e ganhadora do Oscar por A
Meia Luz, estava entusiasmada. Rossellini, que recebeu a carta de Ingrid no
dia de seu aniversário, respondeu com um telegrama a atriz na seguinte caixa
alta: “ACABEI DE RECEBER COM GRANDE
EMOÇÃO SUA CARTA QUE CHEGOU NO DIA DO MEU ANIVERSÁRIO COMO O PRESENTE MAIS
PRECIOSO”....
Apesar do detalhe coquete do “ti
amo”, parece que Ingrid, de início, não tinha ideias românticas para com
Rossellini, contudo, em sua vida pessoal, a atriz era inquieta. Seu casamento
com o médico sueco (ou dentista segundo outras fontes) Petter Lindstrom vinha
tendo problemas algum tempo. O marido gerenciava a carreira dela, pechinchava
os contratos e dava ordens no geral. Isso era bastante comum na época, mas
muito embora Ingrid gostasse da imagem de mulher bem casada e supostamente
feliz, havia limites. Era regra de Petter não admitir que fotógrafos fossem à
sua casa. Numa dessas ocasiões, Ingrid achou conveniente ser fotografada em
casa do que no estúdio. O marido então ficou furioso quando viu as fotos
publicadas.
Ao telegrama de Rossellini seguiu-se uma longa carta onde ele
explicava seus métodos: “Devo dizer que
minha maneira de trabalhar é extremamente pessoal. Não preparo um cenário, que
considero uma limitação terrível ao campo de ação. Venha que conversaremos”.
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Com Michael Wilding - Sob o Signo de Capricórnio - 1949 |
Ingrid aceitou com entusiasmo o convite de Rossellini, muito embora
a atriz estivesse comprometida com um filme de Hitchcock, Sob o Signo de Capricórnio/Under Capricorn, num verão em Londres.
Quem sabe pudesse ela dar uma escapada e ir à Itália discutir o assunto?
Combinaram em encontrar-se em Amalfi, onde Rossellini estava com a amante (e
não menos talentosa atriz) Anna Magnani, a tempestuosa estrela de Roma: Cidade Aberta. Embora Magnani
jamais tivesse se encontrado com Ingrid, ela tinha suas suspeitas. Quando um
porteiro recebeu o telegrama anunciando o desembarque de Ingrid, ele achou que
a atual amante do diretor italiano não pudesse ouvir. O porteiro foi ao
restaurante onde Rossellini e Anna Magnani estavam almoçando, e esta pondo
molho no espaguete, ouviu a seguinte frase do porteiro para com o diretor, num
sussurro teatral:
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Roberto Rossellini e Anna Magnani |
-O senhor me pediu que se
recebesse um telegrama de Londres eu devia entrega-la particularmente ao
senhor. Aqui esta.
-Ah, Grazie!!! – disse
Rossellini, de modo casual que pôde, enfiando o telegrama no bolso, sem ler,
como assunto sem importância. Anna Magnani (1908-1973), futura ganhadora do
Oscar como melhor atriz pelo seu brilhante desempenho em A Rosa Tatuada, de 1956, dirigido por Daniel Mann (1912-1991) –
continuou misturando o molho de espaguete, mas falou:
-Então? Esta bom, Roberto? – perguntou
Anna segurando a travessa de espaguete.
-Ah si Grazie! – respondeu
o diretor todo inocente.
-Ótimo! Então pode ficar com
tudo!!! – disse Anna atirando a travessa cheia de espaguete na cara de
Rossellini.
Roberto Rossellini talvez nem precisasse ir aos Estados Unidos para
contratar Ingrid Bergman para seu novo filme, mas em janeiro de 1949, os
Críticos de Filmes de Nova York escolheram Paisà
como o melhor filme estrangeiro do ano anterior, e convidaram o diretor
italiano para ir a Nova York receber o prêmio. Antes de deixar Roma, segundo um
correspondente de um jornal de Los Angeles, Rossellini disse: ”Vou por chifres no Sr. Bergman”. De Nova York, ele telegrafou para Ingrid: “ACABO DE CHEGAR COMO AMIGO”. Ela
respondeu: “ESPERANDO POR VOCÊ NO OESTE SELVAGEM”.
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Ingrid Bergman e Roberto Rossellini |
Rosselini
não precisou de mais nada para tomar o trem para a Califórnia e se registrar no
hotel Beverly Hills. Ingrid logo o convidou a poupar e hospedar na própria casa
da atriz, na Benedict Canyon Drive. Também começou a levantar dinheiro para o
filme dele. A princípio, a atriz telefonou para o lendário Samuel “Sam” Goldwyn
(1879-1974), e mesmo ainda não tendo um roteiro acertado, ela conversou com
Sam, perguntando se poderia produzir um filme italiano com Rossellini na direção. Sam aceitou, mas só veio a ler o esboço
escuro do roteiro que Rossellini havia enviado para Bergman depois. Ele
considerou a história muito “artística”. Depois, Sam reuniu a imprensa para ver
Goldwyn e Rossellini assinarem o contrato.
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Stromboli - primeiro filme de Ingrid dirigido por Rossellini |
Conseguindo
o financiamento para o filme chamado Stromboli, primeiro filme de Ingrid com o cineasta, Rossellini embarcou para Roma no fim de fevereiro, enquanto que Ingrid e seu
marido Petter foram esquiar em Aspen. Os jornais e tabloides já tinham
publicado boato sobre os passeios de Ingrid e de Roberto já tinham feito, mas
tanto os dois quanto o terceiro envolvido, o marido de Ingrid, não davam
ouvidos, seguindo normalmente com suas vidas. Contudo, isso não passava de um
disfarce, muito passageiro até a chegada de Ingrid a Itália.
Ingrid foi
recebida por uma multidão de fãs no aeroporto de Roma, que lhe desejou boas
vindas. Rossellini surgiu no meio da aglomeração com um imenso buquê. Beijou-a
nas duas faces e sussurrou em francês: Je T’Aime. Depois levou-a em seu carro esporte
vermelho para o Hotel Excelsior, onde outra multidão a aguardava.
Isso foi
apenas o começo. Rossellini e sua estrela partiram numa viagem sem pressa ao
longo da costa, passando por Monte Cassino, Capri, e Amalfi. Ingrid logo se
encantou por Rossellini. Para ela, ele era um homem cativante, culto,
conhecedor da beleza e da arte, conhecia História, os monumentos, lendas. Ao
subirem de mãos dadas uma escadaria em direção a uma torre circular que guardam
a estrada costeira, foram surpreendidos por um fotógrafo que os seguia, e a
foto apareceu numa página inteira da Revista Life. Editoriais de jornais
começaram a mostrar sinais de desaprovação, mas Ingrid ignorou com toda classe
de uma verdadeira dama, e uma mulher de espírito superior. E não fica só por ai:
de Amalfi, a atriz escreveu para o Dr. Lindstrom que ia deixa-lo para viver com
Rossellini. Dizia a carta: “Não era minha intenção me apaixonar e ficar na Itália para sempre. Mas o
que é que posso fazer para mudar as coisas?”.
O romance
entre Ingrid e Rossellini era tratado como o maior acontecimento do ano pelos
jornais. Todos já tinham esquecido de que a talentosa atriz havia interpretado
a decaída Ivy Peterson de O Médico e o
Monstro, e outra decadente em O Arco
do Triunfo; a adúltera de Casablanca
e outra em Interlúdio; só se
lembravam, por incrível que pareça da freira sorridente de Os Sinos de Santa Maria, ou de seu mais recente filme em cartaz, Joana D’Arc, vivendo uma santa. Não
havia privacidade para Ingrid, pois repórteres alugavam barcos para ir a ilha
espreitar e fazer perguntas aos nativos sobre as condições que vivia a atriz. A
medida que as notícias sobre o romance iam chegando aos Estados Unidos, os
executivos de Hollywood começavam a ficar nervosos. A reação da opinião pública
iria obriga-los a boicotar os filmes dela, passados e recentes.
Joseph I
Breen, antigo diretor de administração do Código de Produções, ocupando posição
executiva da RKO, escreveu a Ingrid pedindo-lhe que negasse os boatos de que
pretendia deixar o marido, alegando que isso poderia destruir sua carreira no
cinema: “Podem ocasionar tanta raiva no
público americano que seus filmes passem a ser ignorados e você venha a perder
o valor como sucesso de bilheteria” – assim dizia a carta de Breen para a
atriz.
Walter
Wanger, financiador de Joana D’Arc,
gostava de se considerar um produtor intelectual com ousadas participações
sociais, e ele também escreveu para Bergman, um telegrama que parecia refletir
o mais puro pavor. Assim ele escreveu: “Histórias
maliciosas sobre seu comportamento devem ser imediatamente desmentidas por
você. Se você não pensa na sua família ou não se preocupa consigo mesma, deve
ao menos pensar que, porque acreditei em você e em sua honra, investi grandes
somas pondo em risco o meu futuro e o de minha família, que esta sendo ameaçada.
Não se iluda pensando que o que esta fazendo tem dimensões corajosas ou
artísticas que dispensem a opinião do homem comum”.
O marido de
Ingrid, embora chocado com todo este alvoroço, não queria o divórcio. Ele a
queria de volta, mas ela não, além disso, ela tinha que terminar Stromboli. Chegou a um ponto dele e
Ingrid se encontrarem num hotel de Messina, para desespero de Rossellini, que
tinha medo de que Lindstrom persuadisse Ingrid de voltar. Depois de horas,
Ingrid disse a Rossellini que ela e o marido “resolveram a situação”, e voltou
para o diretor italiano, para Stromboli,
e para a bagunça da filmagem.
Três dias
depois, Henry Steele, o agente de publicidade da atriz convocou uma entrevista
com a imprensa para anunciar que Ingrid estava anunciando o divórcio.
“Instrui meu advogado a iniciar
imediatamente o processo de divórcio. Com a conclusão do filme, minha intenção
é me retirar da vida pública”.
Dessa
declaração, o Gionalle dela Sera tirou
uma conclusão audaciosa e noticiou que Ingrid Bergman estava grávida. Os guardiões da “moralidade” receberam esta
notícia como o pior dos ultrajes. Divórcios eram normais em Hollywood,
adultério poderia ser negado, mas uma mulher casada engravidar de outro homem,
era demais.
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Ingrid com Hedda Hopper |
De
Hollywood, vem a mais ridícula fofoqueira, Hedda Hopper, exigindo uma
entrevista com a atriz. Rossellini quis barrar Hedda, mas o agente de Ingrid,
Henry Steele, achou melhor que Ingrid deveria atender a imprensa. Portanto, foi
concedida para uma das maiores mediocridades de Hollywood uma entrevista de uma
hora de duração, na qual o ponto principal foi evitado o tempo todo.
-“Mais uma pergunta e depois eu saio, Ingrid.
O que é isso que andam dizendo de você estar grávida?”- Perguntou
maliciosamente Hedda.
Henry
Steele, o agente de publicidade de Ingrid, até então acreditava que os boatos
da gravidez da atriz eram falsas. Ele até sugeriu a Rossellini que movessem um
processo contra o Gionalle dela Sera,
e o diretor disse que iria acionar. Os jornalistas de todos os Estados Unidos
continuavam a indagar sobre o estado de Ingrid Bergman, e quando Steele
perguntou a ela o que deveria fazer, ela decidiu escrever a verdade: “Se alguém perguntar de novo se eu estou
grávida, não acione como queria fazer com tanta coragem aqui em Roma, pois
certamente, Henry, você perderá. Caríssimo Henry, talvez você já desconfiasse.
A pergunta sempre esteve em seus olhos, mas não consegui dizer a verdade”.
Steele ficou
chocado, contudo, ele decidiu alertar a atriz: “Nenhuma das grandes distribuidoras permitirá o lançamento ou a
exibição de “Stramboli”. Organizações como a Liga da Decência, clubes de
mulheres, grupos de igrejas, etc, se levantarão com toda sua fúria. A Imprensa
levantará editoriais, farão discursos. Na verdade, não é exagero supor que os
próximos filmes de Roberto, com ou sem você, também serão banidos dos Estados
Unidos”. Steele implorou que ela mantivesse em segredo o nascimento do
bebê, mas ela só lhe deu notícias acerca do novo filme de Roberto.
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Ingrid e suas filhas gêmeas, Isolla Ingrid e Isabela |
Repórteres e
fotógrafos fizeram cerco ao hospital de Roma, onde ela deu à luz em fevereiro
de 1950. Só podia legitimar o bebê através do expediente legalmente duvidoso de
um divórcio por procuração no México, e posteriormente casamento, também no
México, e foi isso que Ingrid e Roberto fizeram um mês depois.
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Não demorou
e o Senado Americano promoveu um plenário para denunciar a atriz como “poderosa
influência maligna, sugerindo que poderia estar sofrendo de temida doença
mental chamada de esquizofrenia”. O Senador Edwin Johnson deu ênfase ao fato de
Ingrid ser estrangeira, assim como a maioria das figuras controversas de
Hollywood (o ex marido de Ingrid havia se naturalizado cidadão americano). Assim
disse o Senador Johnson:
“Sob nossas leis, nenhum estrangeiro
culpado de imoralidade pode colocar de novo os pés em solo americano. A Senhora
Petter Lindstrom deliberadamente exilou-se do país que a tratou tão bem”.
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Extremamente sensual em Europa 51, de Rossellini, 1951 |
FILMES NA EUROPA E A CRISE CONJUGAL.
Afastada de
Hollywood, Ingrid conciliava sua carreira de cinema na Itália, ao lado do
marido Robert Rossellini, e a vida materna, dando à luz as gêmeas Isolla Ingrid e
Isabela (mais tarde a atriz Isabela Rossellini), e um ano depois, a Roberto,
que o casal chamava de “Robertino”. Ingrid e Roberto Rossellini fizeram juntos
seis filmes.
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Com George Sanders - Romance na Itália - 1954 |
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Com George Sanders - Romance na Itália |
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Novamente como Joana D'Arc - Joana D'Arc de Rossellini - 1954 |
Stromboli/Stromboli, em 1950; Europa 51/Europa 51, em 1951; Nós,
as Mulheres/Siamo Donne, em 1953; Romance
na Itália/Viaggio in Italia, em 1954; O
Medo/Non credo più all'amore (La paura), em 1954; e Joana D’Arc de Rossellini/Giovanna d'Arco al rogo, de 1954, onde
ela repetiu o papel da Santa mártir e guerreira da França, desta vez sob a regência do
marido Rossellini, um filme sem comparativos com a obra de Victor Fleming de 1948, tratando-se de um teatro filmado.
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Com Mel Ferrer - Estranhas Coisas de Paris - 1956 |
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Com Mel Ferrer em Estranhas Coisas de Paris |
Em 1956,
Ingrid filma na França o sensacional Estranhas
Coisas de Paris/Elena et les homme, dirigido por Jean Renoir (1894-1979),
onde ela exercita também seu lado cômico.
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O Medo, de Rossellini, 1954 |
Neste
período, embora a carreira da atriz tenha sido de sucesso na Europa, a vida
conjugal já não ia nada bem para ela e Rossellini. O cineasta já não parecia
ter tanto interesse por ela como no início, mas ela seguia de pé com a carreira
em elevação, subindo aos palcos para representar Ibsen, Shaw, e O’ Neill.
O RETORNO À HOLLYWOOD E O SEGUNDO OSCAR.
Em 1956, o
amigo Humphrey Bogart a convidou para filmar em Hollywood. Embora cheia de
receios, ela aceitou desde que fosse filmar na Europa um filme americano. Este
filme revolucionou de vez a carreira cinematográfica de Ingrid, após seis anos
fora do cinema americano devido ao boicote promovido pela própria Indústria do
Cinema.
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Com Yul Brynner- Anastasia, a Princesa Esquecida - 1956 |
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Yul Brynner e Ingrid Bergman |
Anastasia, a Princesa
Esquecida/Anastasia, dirigido
pelo competente Anatole Litvak (1902-1974) em 1956 e baseada em peça de
Marcelle Maurette (a princípio escrita para a televisão) traz Ingrid no papel
de Anastasia, descoberta em Paris em 1928 por um grupo de russos exilados,
liderados pelo general Bounine (Yul Brynner, 1915-1985, que ganhou o Oscar de
melhor ator pelo papel), que sabem que se trata da filha do Czar Nicolau II,
que se supôs fuzilada com a família imperial.
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Anúncio do filme de um jornal carioca, março de 1957 |
A cerimônia para
a entrega do Oscar de 1956 foi realizada a 27 de março de 1957, cujo grande
acontecimento foi justamente o prêmio de Melhor Atriz ganho por Ingrid,
marcando sua volta definitiva para as telas americanas. Ela derrotou Deborah
Kerr (por O Rei e Eu); Carroll Baker
(por Boneca de Carne); Katharine
Hepburn (por Lágrimas do Céu); e
Nancy Kelly (por A Tara Maldita). Com sua
volta a Hollywood em grande estilo e o segundo Oscar conquistado, Ingrid
reconquistou novamente o público americano e seu lugar no coração dos fãs e nas
bilheterias dos cinemas americanos.
O FIM DO CASAMENTO COM ROSSELLINI
Em 1957, Roberto Rossellini vai a Índia e conhece a indu Somali Das
Gupta. Os rumores do romance entre os dois põe fim a união de nove anos entre
Rosselini e Ingrid Bergman. Ainda negando a separação, Ingrid parte para Paris,
a fim de representar, no teatro, Chá e Simpatia.
O produtor da peça era Lars Schimidt, um rico industrial.
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Ingrid e seu terceiro marido, Lars Schimidt, de óculos a esquerda |
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Novamente par de Cary Grant, em Indiscreta, 1958 |
Depois de confirmado
o divórcio com Rossellini, no dia 23 de dezembro de 1958, Ingrid casa-se pela
terceira vez com Lars Schimidt e afirma: "Se fui infeliz na primeira e na segunda experiência, posso tentar uma
terceira". Nesse mesmo ano sua reabilitação em Hollywood foi
confirmada no filme Indiscreta/Indiscret,
comédia romântica dirigida por Stanley Donen, reunindo novamente Ingrid e Cary
Grant.
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A Morada da Sexta Felicidade |
OUTROS FILMES E O TERCEIRO OSCAR
Com sua volta triunfal a Hollywood, Ingrid se entregou de corpo e
alma ao seu trabalho e as suas interpretações. Em 1958, estrelou ao lado de Curd
Jürgens (1915–1982) e Robert Donat (1905–1958) A Morada da Sexta Felicidade/The Inn of the Sixth Happiness, dirigido por Mark Robson (1913–1978), onde ela
viveu uma missionária inglesa na China.
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Com Yves Montand - Mais uma vez, Adeus - 1961 |
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Com Omar Sharif - O Rolls-Royce Amarelo - 1964 |
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Com Walter Matthau -Flor de Cacto - 1969 |
Em 1961, embarcou na comédia Mais
uma Vez, Adeus/Goodbye Again, novamente sob a direção de Anatole Litvak,
contracenando com Yves Montand (1921–1991). Em 1964, ela integrou no mega
elenco de O Rolls-Royce Amarelo/The Yellow Rolls-Royce, dirigido por Anthony
Asquith (1902–1968). Encerrando a década de 1960, atuou na comédia Flor de
Cacto/Cactus Flower, em 1969, uma comédia hippie dirigida pelo recém-falecido Gene Saks (1921–2015),
contracenando com Walter Matthau (1920–2000) e Goldie Hawn em sua estreia no
cinema.
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No badalo com Goldie Hawn - Flor de Cacto |
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Com Anthony Quinn em Caminhando sob a Chuva de Primavera - 1970 |
Quinn e Ingrid - Caminhando sob a Chuva de Primavera |
Iniciando a década
de 1970, Ingrid contracena com outra lenda das telas, Anthony Quinn (1915–2001), no
drama romântico Caminhando Sob a Chuva de Primavera/ A Walk in the Spring Rain, sob direção de Guy Green (1913-2005).
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Ingrid em Assassinato no Expresso Oriente - 1974 |
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Ingrid e seu terceiro Oscar, desta vez como coadjuvante |
Em
1974, Bergman, aos 59 anos, integra o grande elenco de Assassinato no
Expresso Oriente/ Murder on the Orient Express, baseado na obra detetivesca de Agatha Christie (1890-1976) e dirigido por
um estilista, Sidney Lumet (1924–2011). Um elenco formado com nomes como Albert
Fynney (como Hercule Poirot) , Lauren Bacall, Martin Balsan, Jacqueline Bisset,
Richard Widmark, Sean Connery, Vannessa Redgrave, entre outros, figuram este
grande espetáculo que deu a Ingrid o seu terceiro Oscar, desta vez como atriz
coadjuvante, no papel de Greta Ohisson, uma solteirona sueca e tímida que esta
entre vários suspeitos de assassinar um rabugento milionário, vivido por Richard
Widmark, no interior de sua cabine no Expresso
Oriente, o trem que viaja entre Istambul e Paris. Na noite de 8 de abril de
1975, Ingrid, a vencedora da categoria, salvou o evento com um discurso
“delicioso”, pedindo até mesmo desculpas a atriz italiana Valentina Cortese,
cuja interpretação por Noite Americana achava
merecedora do prêmio. Bergman ainda derrotou as atrizes Diane Ladd (por A Noite Americana), Talia Shire (por O Poderoso Chefão, 2ª parte), e Madeline
Kahn (por Banzé no Oeste).
ÚLTIMOS ANOS
Ao mesmo tempo em
que lhe veio o terceiro Oscar após seu brilhante desempenho em Assassinato no Expresso Oriente em 1974,
Ingrid descobriu que estava com câncer. Contudo, nessa época, ela não se rendeu
a doença e esteve dividida entre o teatro, o cinema, e a TV. Em 1º de fevereiro
de 1978, Ingrid se divorciou também de seu terceiro e último marido, Lars
Schmidt. No mesmo ano, Ingrid atuou ao lado de Liv Ullmann, sob direção de Ingmar
Bergman (1918–2007, nenhuma relação com a atriz Ingrid) em Sonata de Outono/Höstsonaten.
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Com Liv Ullmann - Sonata de Outono - 1978 |
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Ingrid em seu último filme - Golda - 1982, para TV. |
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Com Leonard Nimoy - Golda |
Em 1982, após
terminar seu último trabalho, para TV, sobre a vida de Golda Meier, Golda/A
Woman Called Golda, dirigido por Alan Gibson (1938-1987), onde Ingrid viveu
a fundadora do Estado de Israel e Embaixadora israelense, seu braço direito
começou a inchar até ficar de tamanho monstruoso. O braço pesava quase trinta
quilos e ficava coberta por um xale.
“Estou enfrentando meu dragão, meu braço, não
posso me livrar dele, isto é, não posso amputa-lo, então luto com ele. Mas, com
bom humor. Chamo-o de meu cachorro, brinco com ele. Digo a ele – você não é
dragão, você é um cachorro, um cachorro doente. Vamos dar uma volta” –
escreveu ela certa vez para um amigo.
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Ingrid em sua última aparição pública, com o neto, em Nova York - 1982 |
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O Túmulo da atriz e de seus familiares, Suécia |
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Imortalmente bela |
Ingrid Bergman
morreu no dia em que estava completando 67 anos, a 29 de agosto de 1982, em sua
casa em Londres. Ela que sobreviveu aos insultos de Hollywood e ao preconceito
da sociedade americana, sobrepujou tudo isso, graças a ousadia, ao talento, e a
sua inteligência. Enfrentou com dignidade e cabeça erguida todos os obstáculos
e falsos moralismos de seu tempo, mas ao fim, se tornou uma verdadeira campeã,
tanto nas telas de cinema como na vida, deixando um legado de grandes filmes e
grandes atuações, marcadas indelevelmente por sua beleza majestosa e um talento sublime e inconfundível.
FILMOGRAFIA
1934 - The Count of The Monk's Bride
1935 - Branningar
1935 - Munkbrogreven
1935 - Ocean Breakers''
1935 - Swedenhielms
1935 - Valborgsmassoafton
1936 - Intermezzo (Intermezzo)
1938 - Die 4 Gesellen
1938 - Dollar
1938
- En Enda Natt
1938
- A Mulher que Vendeu a Alma (En Kvinnas Ansikte)
1939
- Intermezzo, uma História de Amor (Intermezzo, a Love Story)
1941 - Fúria No Céu (Rage in Heaven)
1941
- O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde)
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Poster de O Médico e o Monstro |
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Ingrid em A Meia Luz |
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Ingrid em Interlúdio. |
1941
- Os Quatro Filhos de Adão (Adam Had Four Sons)
1942
- Casablanca (Casablanca)
1943
- Por Quem os Sinos Dobram (For Whom The Bell Tolls)
1944
- Swedes in America
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Poster de Por Quem Os Sinos Dobram |
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Com Katina Paxinou e Gary Cooper - Por Quem Os Sinos Dobram |
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Com Charles Boyer - Arco do Triunfo - 1949 |
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Poster de Os Sinos de Santa Maria |
1944
- À Meia-Luz (Gaslight)
1945
- Mulher Exótica (Saratoga Trunk)
1945
- Os Sinos de Santa Maria (The Bells of St. Mary's)
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Com Gregory Peck deliciando um sorvete, durante o intervalo de Quando Fala o Coração |
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Com Gary Grant - Interlúdio |
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Ingrid com Alfred Hitchcock |
1945
- Quando Fala o Coração (Spellbound)
1946 - Interlúdio (Notorious)
1948 - Joana d'Arc (Joan of Arc)
1948
- O Arco do Triunfo (Arch of Triumph)
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Looby Card alemão de Joana D'Arc, de 1948 |
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Nós e as Mulheres |
1949
- Sob o Signo de Capricórnio (Under Capricorn)
1949
- Stromboli (Stromboli, terra de Dio)
1951
– Europa'51
1953
- Nós, as Mulheres (Siamo Donne)
1954
- Joana d'Arc de Rossellini (Giovanna d'arco al rogo)
1955
- o Medo (La Paura)
1956
- Anastácia, a Princesa Esquecida (Anastasia)
1956
- As Estranhas Coisas de Paris (Elena et les hommes)
1958
- A Morada da Sexta Felicidade (The Inn of the Sixth Happiness)
1958
- Indiscreta (Indiscreet)
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Com Cary Grant e Alfred Hitchcock, durante as filmagens de Interlúdio |
1961
- Mais uma Vez Adeus (Goodbye Again)
1964 - A Visita (Visit, The)
1965 - O Rolls-Royce Amarelo (The Yellow Rolls-Royce)
1967
– Stimulantia
1969
- Flor de Cacto (Cactus Flower)
1970
– Langlois
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Com Walter Matthau, durante o intervalo de Flor de Cacto. Notem na capa da revista que esta nas mãos de Matthau a foto de Ingrid e Humphrey Bogart. |
1970
- Caminhando sob a Chuva da Primavera (Walk in the Spring Rain)
1974
- Assassinato no Expresso do Oriente
1976
- Questão de Tempo (A Matter of Time)
1978
- Sonata de Outono (Hostsonaten)
1982 - Golda/A Woman Called Golda (TV)
Produção
e Pesquisa de Paulo Telles